Alimentação saudável e prevenção de doenças crônicas

Estudos recentes mostram aumento nas taxas de obesidade, hipertensão arterial, diabetes e colesterol elevado. Além disso, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que 2,8 milhões de pessoas morrem no mundo em decorrência da obesidade. Para falar sobre o assunto, no dia 15 de maio de 2014, o programa Adote um Cientista recebeu o Dr. Raphael Del Roio Liberatore Junior, professor do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP – USP.

Durante o encontro, Liberatore alertou os jovens sobre as consequências da má alimentação e como as doenças crônicas não-transmissíveis constituem atualmente a grande nuvem negra pairando sobre o futuro da população que hoje é adolescente. Com as perguntas do pesquisador, os alunos foram instigados a pensar sobre a maneira adequada de se alimentar, comprovando que já conhecem quais hábitos levam ao ganho de peso e às doenças relacionadas. “Tenho certeza que hoje vocês vieram recordar uma coisa que já sabem: o problema da alimentação na saúde pública”, afirmou o professor no início da sua fala.

A obesidade no Brasil

O professor Raphael chegou e já bateu um bolão com os jovens do Adote. Para introduzir o tema, apresentou gráficos com as doenças mais comuns em diferentes épocas, dentre elas a obesidade, que atualmente é considerada uma epidemia. Destacou, analisando os dados dos últimos 40 anos, as diferenças observadas nas capitais brasileiras. Hoje, mais de 50% dos adultos da nossa população estão acima do peso e, aproximadamente 15% são considerados obesos. Os números variam um pouco conforme a região:

No Brasil, as capitais em que as mulheres apresentam os maiores índices de excesso de peso é Rio Branco (49%) e Campo Grande (49%). Nos homens, Porto Velho (58%) e Rio de Janeiro (56%) (Vigitel, 2009).
Quando observados os casos de obesidade, Porto Velho (20%) e Rio de Janeiro (20%) são as cidades com maiores índices para as mulheres, enquanto que Campo Grande (18%), Porto Alegre (17%) e Salvador (17%) são as capitais com maiores índices para os homens (Vigitel, 2009).

“Tem alguma coisa de errada nessas cidades…”

Sempre dialogando com os alunos, que acompanhavam atentos ao raciocínio do especialista, Liberatore enfatizou as relações entre as descobertas científicas na área de saúde e a cura das doenças. Com a preocupação de pediatra e endocrinologista, ressaltou as mudanças nos hábitos de vida durante as últimas décadas, com destaque para modificações alimentares. Demonstrou, a partir de dados de vários estudos, que a baixa estatura e a deficiência de peso diminuíram na população brasileira, mas o excesso de peso e a obesidade aumentaram muito, tanto para homens quanto para mulheres. “Nos últimos 40 anos, o que aconteceu com vocês (jovens de 10 a 19 anos]? Deixaram de ser magrinhos e baixinhos, passaram a ser gordinhos ou bem gordos. Alguma coisa mudou.”, comentou o professor.
A obesidade, crescente em vários países e responsável por diversas patologias, tem aumentado em nossas cidades, correspondendo a um sério problema de saúde pública. No início do século XX, as principais causas de morte em São Paulo eram diarreia e bronquite. Após 100 anos, as causas passam a ser enfarte do miocárdio, agressões e acidente vascular cerebral (derrame). “Hoje, estamos pagando um preço muito alto pela forma como a gente começou a comer de uns tempos para cá”, concluiu o professor.
Segundo Liberatore, durante muitos anos acreditava-se que a obesidade era um problema dos adultos e que as crianças, principalmente as pequenas, não tinham. Mas dados atuais revelam que, apesar de as mortes entre jovens de 15 a 19 anos serem principalmente por causas externas (como acidentes e violência), à medida que se analisa as faixas etárias mais avançadas, observa-se que os problemas cardíacos e os tumores ganham destaque e passam a ser atores principais. Isto está intimamente relacionado aos nossos “novos” hábitos, que inclui a alimentação. “Quarenta anos atrás, no Brasil, as principais causas de mortes eram parasitoses e doenças infecciosas. Hoje, estamos parecidos com os EUA: morremos mais de problemas no coração e tumor. Isso é reflexo da vida que estamos levando”.

Averiguando o comportamento alimentar
Após a apresentação dos dados sobre o tema, o professor Liberatore propôs uma dinâmica entre os alunos, os quais, muito receptivos, prontamente se organizaram para questionar os colegas sobre o que comeram no dia anterior e se realizaram atividade física.
Durante a apresentação das respostas coletadas pelos jovens, o pediatra discutiu sobre a importância do café da manhã e chamou a atenção dos alunos que não têm este hábito ou que não realizaram a primeira refeição antes de ir para a escola. Alguns estudantes manifestaram hábitos diferenciados, como aqueles que seguem uma dieta mais controlada, realizando refeições a cada três horas. Raphael solicitou que os colegas continuassem a perguntar todos os dias uns aos outros “você tomou café da manhã hoje?”. Será que esse lembrete ajuda as pessoas a terem mais cuidado com a alimentação?
O especialista aproveitou as respostas dadas e foi trabalhando com os alunos a importância da alimentação saudável e insistiu na importância da refeição com os alimentos variados, pois percebeu que nos relatos faltavam saladas e frutas. O médico defendeu o consumo do arroz e feijão, evidenciou que os jovens incorporam o discurso, sabem o que deveriam fazer, mas nem todos praticam; e alertou: “Pode encher o prato, mas não pode repetir o prato”.
Em relação às atividades físicas, andar de bicicleta, caminhar, treinar kung fu, foram algumas das práticas realizadas pelos jovens, indicando que, talvez, os meninos pratiquem com maior frequência e de maneira regular.
Diversas perguntas como “Por que o frio traz fome?”, “Por que comer assistindo televisão faz mal?”, “É verdade que beber água durante as refeições não é bom? Tem alguma coisa a ver com a absorção de nutrientes?” surgiram durante a conversa, assim como os temas tabagismo, consumo de álcool e algumas estatísticas sobre acidentes de carro.
Ao final do encontro, o professor Liberatore sugeriu três vídeos que revelam a composição “enganosa” de alguns alimentos industrializados, como os sucos de laranja e as barrinhas de cereal. Acesse:

Amigos da Nutrição | Meio suco de laranja | Barrinhas de açúcar


Espaço dos alunos

A partir da análise das filipetas do encontro, a equipe da Casa da Ciência produziu este infográfico destacando as principais dúvidas manifestadas pelos alunos e os principais conceitos aprendidos no encontro. A finalidade deste instrumento é a avaliação dos momentos de aprendizagem do aluno e valorização da sua dúvida.