Os alunos do Adote um Cientista participaram de uma atividade especial durante a Semana Nacional do Cérebro 2014. O encontro do dia 13 de março discutiu a neurobiologia do autismo, um distúrbio neurológico que tem na interação social sua principal característica. Para isso, convidamos dois pesquisadores das neurociências: Dr. Rodrigo Romcy-Pereira, professor do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), e o mestrando Danilo Benette Marques, do Laboratório de Investigação em Epilepsia da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP.

Neurobiologia do Autismo: Uma questão de maturação e conectividade?

 

 

 

Costumo dizer que o nosso cérebro é bem generalista, nós somos “mais ou menos” em muitas coisas: não somos Einstein na Matemática e na Física, trabalhamos com o cérebro com funções medianas. No cérebro autista ele tem algumas ilhas que despontam e tem alguns vales.
Prof. Dr. Rodrigo Neves Romcy-Pereira – Instituto do Cérebro – UFRN.

O autismo, distúrbio neurológico que tem ganhado destaque em pesquisas em neurociências, compreende uma complexa rede de hiperfunções e hipofunções manifestadas de diferentes formas e intensidades. Conhecido pelo comportamento repetitivo de atividades motoras, como organizar carrinhos e demais objetos, o autismo abrange outras categorias de características. O enorme potencial para desenhos e cálculos matemáticos, associados (ou não) às dificuldades sociais e comunicativas, como a pouca troca de olhares e a dificuldade de imaginar a mente do outro, ou seja, de se colocar na posição de outra pessoa diante determinada circunstância – o que pode ser chamado de empatia – podem ser outras manifestações encontradas.

Nos últimos anos, tem crescido o diagnóstico de casos de autismo na população. Hoje, uma em cada 88 crianças americanas são diagnosticadas com este distúrbio, o que corresponde a um pouco mais de 1%.

Para apresentar o tema e discutir os últimos avanços das pesquisas da área, o neurocientista Rodrigo Neves Romcy-Pereira realizou uma videoconferência com os alunos do Adote um cientista, durante a Semana do Cérebro (10 a 16 de março). Internautas puderam acompanhar, ao vivo, a transmissão da palestra a partir do canal da Casa da Ciência no YouTube. Ao longo da conversa, abordou questões como:
Quais alterações morfológicas são observadas no sistema nervoso? Em quais regiões e em qual momento da gestação?
Em que momento ocorre a maturação dos neurônios? Quais variáveis influenciam?
Quais as causas genéticas do autismo? Quais genes são identificados como responsáveis e em quais cromossomos?
O que o autismo e a epilepsia têm em comum?

Sabe-se que o autismo está associado a alguns eventos, como a herança genética de alguns genes que dão pré-disposição ao distúrbio e alterações no desenvolvimento do cérebro durante a gestação, que ocorre durante 40 semanas. Algumas infecções virais, toxinas, drogas e medicamentos tomados durante a gestação podem alterar o processo de desenvolvimento e maturação dos neurônios, que pode ocorrer de maneira desorganizada e não controlada, levando a uma série de alterações na estrutura do cérebro. Estudos recentes têm esclarecido um pouco mais sobre isso, contou o professor Rodrigo Pereira.

Estas e outras questões foram apresentadas e discutidas durante a videoconferência e, ao final do encontro, diversas perguntas foram levantadas pelos alunos do Adote:

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É possível utilizar a engenharia genética para poder tirar vantagem destes genes, aproveitar alguns que possam melhorar a memória (…), algumas habilidades e funções do cérebro?

 

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De alguma forma, depois de velho, é possível “virar” autista e ter essas habilidades e essas características?

 

 

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 Existe algum tratamento (para o autismo)?

 

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Como foi dito, as pessoas autistas tem uma sensibilidade bem alta. Teria alguma forma de diminuir essa sensibilidade?

 

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Uma pessoa autista também sente sentimentos fortes, como por exemplo, saber que está sendo excluída pela sociedade?

 

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Uma pessoa com autismo baixo/leve tem como passar a ter um autismo mais pesado, ou vice-versa?

 

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Existe alguma forma de, durante a gestação, identificar se a criança terá autismo?

Para aprofundar no assunto assista ao vídeo completo do encontro.

 

Autismo, Filmes de terror, Moral e o Bocejo contagioso: Uma relação biológica?

O que une Autismo, Filmes de terror, Moral e o Bocejo?

Para explicar essa relação, o biólogo Danilo Benette Marques desenvolveu o segundo diálogo do encontro com os alunos do Adote um cientista. A partir da articulação de diferentes experimentos da área, associado à conhecimentos de senso comum e eventos do cotidiano, o pesquisador explorou conceitos-chave, como as propriedades dos neurônios espelhos, a dinâmica das sinapses e o processamento de informações em regiões específicas do cérebro.
Iniciou caracterizando sua linha de pesquisa, a Neurociências, como “um conjunto de neurônios [pesquisadores] estudando um conjunto de neurônios [objeto de investigação]”. Explicou ainda, que esta ciência “transita em todas as áreas do conhecimento: parte da filosofia à biologia molecular”.

Para aquecer o diálogo com os jovens, provocou com questões:

O que está por trás de cada um destes conceitos?

Quais as relações com o funcionamento do cérebro?

Por que o bocejo é contagioso?

Está associado a ver alguma ação e imitar?

Qual o valor adaptativo destes comportamentos?

Durantes suas explanações, Danilo criou quatro momentos de discussões, focados no tema de sua palestra e, ao final, os articulam, permitindo aos alunos chegarem à construção de um dos principais conceitos previsto em sua fala: existe relação entre o autismo e os neurônios espelhos?
Antes de chegarmos nesta relação, conheça algumas questões levantadas em cada um dos momentos:

 

O bocejo

“Por que o bocejo contagia?”

“Existe alguma explicação evolutiva?”

 

Moral

“O que é a Moral?”

“O que é bondade? E maldade?”

“O que define o que é bom e o que é mau?”

“Como a Moral é estabelecida pela sociedade em que você vive?”

 

Filmes de terror

Danilo: Por que vocês gostam de cinema? Alguém já parou para pensar o porquê?

Aluno: Alguns filmes que a gente assiste faz a gente pensar na vida.

Danilo: A atmosfera dos filmes criam expectativas e sentimentos na gente, criamos um laço com personagens. Mas como a neurociência explica isso?

 

Autismo

Qual o significado da palavra autismo?

O que é Empatia? De que forma ela se manifesta no autista?

No autismo observa-se, em diferentes graus, o comprometimento da interação social, da comunicação e da linguagem. Outra característica que pode ser manifestada é a repetição de ações, como desenhar, tocar e organizar blocos, associados à interesses específicos.

“O Interesse específico é prioridade aos interesses sociais e de comunicação”.

Para demonstrar a questão da empatia, o neurocientista explicou o Teste da Annie e da Sally, situação problema em que o indivíduo autista não consegue se colocar no lugar do outro, nem entende que outra pessoa pode ter um ponto de vista diferente do dele.

A empatia tem alguma relação com os neurônios espelhos?

Após discutir e apresentar experimentos relacionados a cada um destes conceitos, o pesquisador questionou:

“Como tudo isso se une? Empatia, interação e recompensa social, Moral, filme de terror e sua identificação com personagens, com o Autismo?

“Antes, temos que saber como o cérebro funciona”, apontou Danilo:

O cérebro é composto pelas células nervosas, os neurônios. Eles são formados pelo corpo celular, o núcleo, onde está contida a informação genética, os dendritos (que significa galhos), o axônio e seus terminais. A informação do neurônio é processada na forma de impulsos elétricos, passando por dendritos  – corpo celular – axônio, com a liberação de neurotransmissores para o próximo neurônio.

Desta forma, o cérebro funciona por atividade elétrica. Estas sinalizações elétricas podem ser identificadas pelo eletroencefalograma (EEG) e pela neuro imagem, permitindo o estudo da oscilação dos disparos nervosos. Torna-se possível os estudos das diferentes regiões do cérebro, associando-as à estimulação local específica, que promove a manifestação de uma sensação ou ação, como sentir algum cheiro ou executar um movimento.

 

Neurônio espelho: conceito chave

O mestrando Danilo apresentou aos jovens do Adote a descoberta de um importante mecanismo neurofisiológico: a ação dos neurônios espelhos. A partir de um experimento realizado com macacos, cuja finalidade era mapear suas atividades cerebrais, os pesquisadores descobriram um curioso comportamento neuronal ao submeter o macaco à observação de uma ação que ele já conhecia.

Qual resultado alcançado nesta pesquisa?

Qual a relação deste importante mecanismo e os comportamentos observados nos indivíduos autistas?

Será que a propriedade de neurônio espelho também se aplica às emoções?

No filme de terror você sente medo porque é uma propriedade do neurônio espelho?

O bocejo é contagioso devido a empatia dos neurônios espelhos?

Autismo e neurônios espelhos: espelhos quebrados, não se desenvolveram ou estão dormentes?

 

Para conhecer o conceito e aprofundar no assunto, assista ao vídeo e acompanhe também as respostas dadas pelo especialista.

 


Espaço dos alunos

A partir da análise das filipetas do encontro, a equipe da Casa da Ciência produziu este infográfico destacando as principais dúvidas manifestadas pelos alunos e os principais conceitos aprendidos no encontro. A finalidade deste instrumento é a avaliação dos momentos de aprendizagem do aluno e valorização da sua dúvida.