Durante a Gincana Científica realizada em março de 2017 foi preparada uma atividade expositiva no espaço do Hemocentro conhecido como “toldo azul”, o qual é adjacente ao anfiteatro no qual ocorriam às experimentações da Gincana Científica (relatadas anteriormente). Essa exposição teve como objetivo fomentar o estudo de algum comportamento e/ou interações de animais por meio da observação de sequências de fotos que representavam tais processos cronologicamente. Os alunos foram orientados a observarem de maneira atenta o que as sequências de fotos demonstravam, tentando identificar as etapas dos acontecimentos. Para isso, também estavam disponibilizados nos cartazes textos curtos de apoio, contendo informações sobre as espécies em exibição nas imagens.

De uma forma geral os alunos se mostraram interessados nas fotos, principalmente naquelas relacionadas à comportamentos de predação (cartazes da Aranha Lycosa sp. e da Cobra-coral Micrurus sp.). Durante a atividade os participantes discutiam entre si as questões propostas em forma de testes e utilizavam argumentos relacionados aos seus conhecimentos prévios na escolha das respostas corretas, o que foi muito bem visto pela equipe da Casa da Ciência. Porém, devido a atenção empolgada dada à observação das imagens, os textos de apoio disponibilizados foram algumas vezes esquecidos ou simplesmente deixados de lado, aparentemente devido à falta de interesse na leitura. Assim, duvidas e dificuldades que emergiram durante a resolução da atividade teriam sido esclarecidas se a leitura de um texto curto tivesse chamado mais atenção dos jovens.

 

Cartaz da Formiga Atta

As imagens selecionadas para esse cartaz demonstravam o processo de estabelecimento de uma nova colônia de formigas com a criação de um novo formigueiro. Primeiramente foi pedida a identificação de qual mudança morfológica o indivíduo representado nas imagens passou durante esse processo e, posteriormente, qual a quantidade e o sexo do(s) indivíduo(s) envolvido(s). A maior parte dos alunos apontou corretamente a fêmea como um indivíduo solitário que funda uma nova colônia e perde as asas nesse processo.

Uma questão que chamou atenção relacionada à essa atividade foi a falta de percepção da escala de diversos alunos. A identificação de que um palito de fósforo fotografado junto às formigas trazia informações a respeito do tamanho real desses animais não foi percebida pela maioria dos participantes, que só aparentavam adquirir essa noção após intervenção do monitor.

 

Cartaz da Aranha Lycosa sp.

            A sequência de fotos em exposição nesse cartaz demonstrava uma aranha capturando e se alimentando de uma barata e, em seguida, já incubando ovos (sem demonstrar o acasalamento prévio) e com filhotes sobre seu abdômen, após eclosão desses. A principal dificuldade notada consistiu na percepção por meio da observação das imagens desse tempo não demonstrado (entre a alimentação e a incubação de ovos), visto que as imagens não explicitaram isso. Contudo, a informação presente no texto de apoio, algumas vezes ignorado, auxiliaria na compreensão, que só foi adquirida com auxílio do monitor.

Houve certa dificuldade também na observação de que os filhotes da aranha Lycosa sp. retratada ficavam sobre o abdômen da fêmea após a eclosão dos ovos, possivelmente devido ao tamanho diminuto desses animais nas imagens. Porém, o próprio texto de apoio trazia essa informação, o que explicita mais uma vez falta da leitura conjuntamente com uma observação menos minuciosa por parte da maioria. A maior parte dos alunos sugeriu que os filhotes da aranha permaneciam sobre o abdômen da mãe pois precisariam se desenvolver, as vezes citando a alimentação e proteção conferida pela fêmea nessa etapa de desenvolvimento. Alguns alunos hipotetizaram a possibilidade de que a aranha mãe poderia matar seus próprios filhotes, registro feito, por exemplo, por uma aluna que tinha conhecimento prévio de que escorpiões fêmeas podem matar sua prole.

 

Cartaz da Cobra-coral Micrurus sp.

            Nessa atividade as fotos demonstravam o comportamento de predação de um rato por uma Cobra-coral, desde sua captura até a ingestão completa do roedor. A maior parte dos alunos compreendeu corretamente essa sequência, identificando por meio da observação das imagens que a serpente utilizava da constrição para matar sua presa. Contudo, a alternativa de que a presa poderia estar viva ainda durante sua deglutição gerou dúvidas em muitos alunos, e de fato existem casos em que as presas são engolidas ainda vivas pelas serpentes, o que por meio da observação de fotos não fica óbvio. Vale notar que um aluno registrou tal informação baseado em seus conhecimentos prévios de que cobras após ingestão de presas ficam mais propensas a estarem imóveis durante a digestão.

 

A importância da observação e leitura

            Com a aplicação dessa atividade expositiva a equipe da Casa da Ciência visou instigar a importância da observação no processo de investigação científica, aplicando um “treinamento” dessa habilidade para os alunos, os quais perceberam a dificuldade de se dar atenção aos detalhes, bem como a importância de se estabelecer relações do observado com seu conhecimento. Foi possível por meio das dificuldades levantadas estabelecer futuras ações, como atividades voltadas às medidas, percepção de tamanho dos objetos, bem como uso de escala. Além disso, chama atenção como aparentou ser desinteressante aos alunos um curto texto informativo em complementação às fotos, tendo em vista que esses foram muitas vezes deixado de lado nessa atividade. 

Texto por Caio M.C.A. de Oliveira

Revisão de Marisa Ramos Barbieri

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