Aprendizagem e diversão foram as palavras de ordem do 7º Férias com Ciência, evento que foi organizado pela Casa da Ciência nos dias 21, 22 e 23 de janeiro no MuLEC (Museu e Laboratório de Ensino de Ciências). Intitulado “Dando linha (para a Matemática)”, o evento recebeu jovens entre 8 e 12 anos interessados em aprender sobre as relações entre as ciências naturais e as ciências exatas. Os alunos participaram das atividades teóricas e de campo que envolveram até mesmo a confecção e o teste de voo de pipas.

“O que nós estamos vendo: Ciências ou Matemática?”, esta pergunta, realizada por um aluno durante o evento, evidencia a percepção dos jovens, prevista pela equipe da Casa, de continuar e avançar na proposta do Férias, que envolveu observações das repetições presentes na natureza e compreensão de seus padrões matemáticos.

O grupo que coordenou as atividades – composto por quatro biólogos, uma matemática e um graduando – parceiro da área de química, Fábio Lélis – considerou aspectos do cotidiano, especialmente os relacionados à natureza, para montar as atividades de campo e as oficinas. A equipe elegeu conceitos básicos para serem trabalhados com os jovens, como medidas, repetições, padrões e modelos matemáticos e, para isso, escolheu um objeto: a pipa com seus diversos formatos geométricos. Em uma atitude já esperada pelo grupo, ao observar, investigar, registrar e analisar os resultados obtidos em uma ação próxima à iniciação científica, o jovem quebra fronteiras presentes nas diferentes áreas do conhecimento que não deveriam existir.

Para a equipe da Casa, durante as atividades do 7º Férias ficou evidente que “o aluno, ao perceber que biomas e espécies são padrões e repetições com certa ‘dose’ de plasticidade na natureza e que todos os triângulos também apresentam um padrão próprio de sua categoria, provavelmente passa a buscar e investigar outras situações em que o mesmo exercício se aplica”.

 

Impacto teórico

Como nas outras edições, o evento trouxe um programa extenso e profundo em conteúdos, conceitos e atividades, que tiveram que ser condensadas para cumprir o curto período de três tardes. Contudo, mesmo com o grande volume de informações, o primeiro encontro foi marcado pelo retorno imediato dos alunos, manifestado enquanto construíam os conceitos – alguns já trabalhados nas escolas. Nas discussões – focadas na busca por padrões entre os biomas, a morfologia de grupos de animais e vegetais, incluindo as formas geométricas – ocorreu um “choque teórico” que foi decisivo para o resultado obtido.

Ainda no primeiro encontro, os jovens participaram da atividade prática do dia que incluía a medição do tamanho da sala do MuLEC, que deveria ser realizada sem a utilização de equipamentos adequados. Pensando apenas em materiais de fácil acesso, a equipe da Casa, em diálogo com os alunos, conseguiu demonstrar que os tacos do chão poderiam ser uma forma rápida e prática para uma aproximação, assim como utilização de tijolos. Em outro momento, três triângulos projetados (equilátero, isósceles, escaleno), foram comparados e analisados com a intenção de encontrar o padrão desta forma geométrica, que inclui a presença de três lados e três ângulos, cuja somatória interna é sempre 180ᵒ. Para confirmação desta última propriedade, os alunos foram convidados a realizar medições com transferidores para verificar os ângulos internos citados. Até mesmo o participante mais novo aderiu à atividade demonstrando pouca familiaridade com o instrumento de medida.

A adesão total dos alunos foi verificada na segunda parte do encontro, durante a Oficina de Pipas. A empolgação dos jovens foi evidente, principalmente pelo fato de terem pouca experiência na confecção do objeto. A partir de desafios sugeridos para a montagem das pipas, a equipe procurou incluir nesta “brincadeira”, elementos matemáticos básicos que deveriam ser atendidos. Os critérios eram diversificados e traziam questões de área mínima e máxima do papel de seda, quantidade e comprimento das varetas, posição da rabiola, ângulos mínimos e máximos entre as varetas, dentre outras variáveis. Esta atividade fez com que os alunos percebessem como a Matemática pode auxiliar nas tomadas de decisões.

 

 

 

Em campo: realização de medidas e busca por padrões

No segundo encontro, a ida a campo proporcionou ao grupo a oportunidade de colocar em prática alguns conceitos básicos discutidos no dia anterior. Desafiados a escolher uma árvore e realizar diversas medidas (altura, perímetro do caule, quantidade de folhas, área da superfície foliar de uma folha e estimar o total da copa, entre outras), os alunos, divididos em duplas, tiveram que utilizar muita criatividade e propor caminhos matemáticos para alcançar as respostas.

A equipe abordou outras formas de medições com equipamentos mais adequados e relacionou o fato de que a Matemática também é uma ciência. Medir a espessura (perímetro) do caule a um metro de altura gerou dúvidas nos jovens pelo fato de algumas espécies apresentarem o caule ramificado nessa determinada altura. Durante a atividade, teve um caso inusitado com um aluno, que utilizou o transferidor – instrumento comumente aplicado na medição de ângulos – para medir o perímetro do tronco.

Na última tarde do Férias aconteceu o momento mais esperado pelos jovens: testar se as pipas confeccionadas voariam. Espalhados pelo gramado do MuLEC e assessorados pela equipe da Casa, os alunos empinaram suas pipas e se divertiram ao ver sua produção em funcionamento. Um estudante que acreditava que sua pipa não funcionaria por ser muito grande (com uma vareta central de um metro de comprimento) se surpreendeu quando viu que o tamanho do objeto não impossibilitou o seu voo, mesmo num dia típico de Ribeirão, ou seja, sem vento.

O evento cumpriu o seu o papel de instigar os alunos a buscarem respostas para suas dúvidas e a entenderem as relações complexas entre a Matemática e as formas e repetições da natureza. As mães foram fundamentais na insistência para a participação dos jovens, que constituíram o grupo restrito de sete meninos e uma menina, além de um ex-aluno do Programa Pré-Iniciação Científica da USP que participou do primeiro encontro e já era familiarizado com as propostas da Casa. Os familiares relataram que o interesse em voltar para os outros encontros partiu dos jovens e teve até um pai que se surpreendeu com o fato de seu filho ter gostado muito da proposta apresentada.