Você acredita em astrologia? A homeopatia pode ser testada cientificamente? Quais são as contribuições que a ciência pode dar a um corpo de conhecimento que se diz científico?
A ideia básica do grupo “Gorila Azul na sala”, do Pequeno Cientista, orientado pelos biólogos João Pedro T. dos Santos, Dahyes F. Regasso e Matheus Scheffer, foi diferenciar ciência e pseudociência. O objetivo foi trabalhar com o método científico e mostrar como a ciência é feita, como é testada e replicada por meio de experimentos. Os alunos tiveram que levantar hipóteses sobre assuntos cotidianos e utilizar ferramentas que podem ser aplicadas em suas vidas. “Ajudou a sempre questionar e não acreditar em algo somente porque outras pessoas acreditam”, disseram os alunos em relatos.
Um dos problemas apontados pelos orientadores é que a maioria das pessoas não compreende como a ciência trabalha e desconhece a linguagem científica. “Trabalhamos com hipóteses e teste de hipóteses. Nas primeiras aulas talvez não tenha ficado claro, fizeram uma confusão entre hipóteses e teorias, teoria cotidiana e científica”, afirmou Dahyes.
O planejamento incluiu aulas teóricas expositivas, dinâmicas, discussões, realização de testes, leitura e interpretação de textos e atividades em laboratório realizadas no MULec. Com o Jogo Elêusis discutiram ideias sobre dedução, indução e hipóteses. O efeito Barnum foi utilizado para identificar características universais sugeridas, no caso da astrologia. Também foram discutidos dilemas éticos de testes e possibilidades de abstração para soluções criativas. Por fim, estudaram o efeito placebo para compreender a homeopatia, com base em experimentações feitas em laboratório. A aluna, produziu o fanzine “Você já parou para pensar hoje?

A seguir acompanhe alguns conceitos e temas abordados pelo grupo.

Quais são as suas concepções de ciência?
As primeiras aulas abordaram a astrologia, com objetivo de mostrar porque a astronomia é um corpo de conhecimento mais robusto. No âmbito psicológico, partiram do efeito Barnum, para mostrar que esses textos são vagos e, em sua grande maioria, positivos. São construídos de maneira para que todos se identifiquem, pois apelam para características universais humanas como insegurança e medo da morte.
Na atividade com o mapa astral, trabalharam o conceito da gravidade exercida pelos astros. Partindo da hipótese que a astrologia trabalha com alinhamento de estrelas e planetas, fizeram um cálculo astronômico, com base nos conceitos de gravidade: “Qual efeito que uma estrela poderia ter sobre você?”. Para demonstrar o impacto da massa de uma pessoa a partir da interferência de estrelas mais próximas, Dahyes fez uma calculadora a partir da teoria da gravidade de Newton. “A força de gravidade que uma estrela distante pode exercer aqui é menor que a gravidade exercida por uma pessoa próxima”, explicou o biólogo.

Velocidade da luz
Um conceito que chamou a atenção dos alunos, não previsto pelos orientadores, foi a percepção tridimensional das estrelas, diferente das formas alinhadas e planas, sem profundidade apresentadas por um mapa astral. “Desta forma não faria sentido”, disse uma das alunas quando percebeu que esse aspecto poderia derrubar a ideia de um mapa astral. Outro conceito foi a velocidade da luz: a luz que vemos nas estrelas mais distantes foram emitidas há milhares de anos, e, devido à distância, talvez já acabaram. “Se estrelas apagam e as constelações refletem o passado do universo, como podem influenciar a minha personalidade?”, perguntou uma aluna.
Outro tópico que surgiu, também fora do planejamento, foi a questão do conhecimento popular com relação à influência dos astros sobre a vida na Terra, especialmente da lua sobre as marés. A pergunta inicial era: “como somos constituídos por 70% de água, por que a lua não iria interferir sobre você?”. Nesse momento os alunos trouxeram um conhecimento popular, questionando a existência de marés nos rios. “Minha avó falou que rio tem maré sim, e que tem um peixe que dá pra pegar na lua cheia da maré!”. O tema foi discutido com os orientadores. “Não podemos desconsiderar uma questão por não ser científica. Muitas vezes a ciência se pauta nisso”, afirmou João Pedro.

Gorila azul
Para finalizarem o conceito de pseudociência, fizeram o experimento do Gorila azul, baseado na obra de Carl Sagan, “O mundo assombrado dos demônios”. Os alunos foram expostos à existência de um Gorila Azul hipotético, em um espaço externo do museu. Os orientadores ofereceram ferramentas para que os alunos testassem a hipótese de presença/existência de um referido animal naquele espaço, como farinha, lençóis, repelente, ração, laser e luzes. A cada uso das ferramentas, eles tinham que formular hipóteses.
“Nós sabemos que o Gorila poderia muito bem, estar, ou não, perto da gente. Aliás, suas lendas indicariam sua presença aqui. E nosso objetivo era comprovar se ele estaria aqui ou não. Usamos dois recipientes (bacias) para fazermos nossas experiências, ambas com farinha e ração. Uma bacia era o grupo controle, outra era supostamente onde o Gorila estaria, ou grupo teste. Usamos um pano também, balas e um repelente. Nosso resultado foi que o Gorila realmente não estava na bacia, o que era de se esperar. Mas ´a ausência de evidência não significa evidência de ausência, então continuaremos os testes`” (Relato de alunos)

Mural
Após 10 encontros, o grupo se preparou para o pré-mural para escolha dos temas a serem apresentados no Mural. Os alunos escolheram astrologia, efeito placebo, homeopatia, com experimento prático de diluição, e o Gorila azul. “Eles pretendiam começar com perguntas instigantes sobre o conhecimento humano e popular. Depois abordar o método científico incluído hipóteses, testes e teorias. As conclusões ficariam para o Mural”, explicou João Pedro.
Ao final do Mural, um comentário feito por uma aluna do grupo chamou a atenção dos orientadores. “Eu entendi como a astrologia é feita. Mas, continuo acreditando, por que minha avó acerta os signos de meus amigos”.

Texto: Gabriella Zauith
Revisão: Marisa Ramos Barbieri

Orientadores:

João Pedro Trevisan dos Santos
Dahyes Felix
Matheus Afonso Schefer

Alunos:

Geovanna Peçanha Valério
João Otávio Peccia
Luís Carlos de Oliveira Junior
Miguel Galiaso Fumagali
Monique Ferreira Carrascosa Oliveira
Rebeca Carvalho da Silva Sobrinho
Ruan de Carvalho Ricci
Vinícius Gallego da Silva