Do ponto de vista das abelhas as flores são importantes porque fornecem recursos. Se você já observou a frequência com que as abelhas visitam as flores deve ter notado isso. Mas quais são esses recursos? Eles são conhecidos como recursos nutritivos e não nutritivos, sendo que os principais são o néctar, o pólen e os óleos essenciais, usados como alimento, enquanto que os recursos não nutritivos são as fragrâncias coletadas pelos machos das abelhas das orquídeas e os refúgios com os quais as abelhas se protegem do calor e predadores.

Tais recursos são importantes porque garantem a sobrevivência das abelhas adultas e imaturas, como foi observado nos ninhos da abelha da “acerola” (Centris analis) e da abelha carpinteira ou mangava (Xylocopa gricensens) em atividades realizadas na Casa da Ciência, nos programas educacionais Pequeno Cientista, que investigou o comportamento alimentar da abelha da acerola (Figura 1a) e Adote um Cientista, com a palestra “Professor e Jornalista: uma parceria que deu certo” (Figura 1b), entre os anos de 2011 e 2012.

Figura 1- Bloco com 55 ninhos-armadilha da abelha da acerola Centris analis (A) e tronco da árvore Tecoma stans utilizado como ninho da abelha carpinteira Xylocopa gricensens (B).

Mas vamos inverter o foco e questionar qual seria o ponto de vista das plantas em relação às abelhas? Como você já deve ter observado as plantas apresentam tamanhos e formas diferentes, além de guias florais para atrair diferentes polinizadores. Porém, uma simples visita de uma abelha na flor não garante a relação conhecida como polinização. É comum diferenciar os insetos que visitam as flores como polinizadores ou pilhadores, que apenas rouba os recursos florais, podendo destruir a flor e não polinizá-la. Assim, a relação entre abelhas e plantas é complexa e muitas questões não podem ser deixadas de lado, tais como:  qual é a diferença entre polinizador e pilhador (visitante)? Qual é a diferença entre polinização e fecundação? É importante considerar e reconhecer a coevolução entre insetos e plantas e identificar tais diferenças em um contexto evolutivo também, visto que

a diferença entre um polinizador e um visitante floral reflete uma relação histórica entre insetos e plantas, envolvendo características morfológicas, comportamentais e frequência de visitação de diferentes indivíduos da mesma espécie.

Questões como essas nortearão as ações no MuLEC, já que no campus da USP-RP é possível identificar uma biodiversidade de plantas e insetos interagindo a todo momento. Outra questão importante são os mecanismos que as plantas utilizam para evitar a autopolinização. O mais conhecido é a Hercogomia, que é a separação espacial entre a parte feminina e masculina da planta. Imaginem encontrar uma planta com dois tipos de flores! Ficou curioso? Futuras atividades da Casa da Ciência tratarão sobre essas perguntas e esses conceitos e você está convidado a participar.

Texto: Ricardo Couto

Revisão: Caio M.C.A. de Oliveira e Marisa Barbieri