Muitas substâncias encontradas na natureza apresentam propriedades medicinais ou provocam efeito prazeroso quando comidas, bebidas ou fumadas. A dependência de drogas constitui um problema sério para as sociedades e algumas drogas chamadas de psicoativas, cujo uso é recreativo, causam alterações no plano psicológico e podem ter efeitos desastrosos para a saúde. Segundo o pós-graduando Rodrigo Campos Cardoso, que palestrou no dia 19 de abril, no programa educacional Adote, o primeiro caminho para investigar a ação das drogas é considerar que elas têm receptores de membrana específicos (não entram na célula) e, depois, a sinapse. De novo sinapse? Já não é a primeira vez que falamos dela. Dê uma olhada no Adote em Pauta “O veneno e a cura”, publicado no site da Casa da Ciência.

As drogas que causam dependência inundam a fenda sináptica com dopamina. Lembram dela? Já aprendemos sobre os neurônios dopaminérgicos da substância nigra (localizados na Ínsula), importantes para o controle motor, mas o curioso é que não é apenas essa área do cérebro que libera esse neurotransmissor. A dopamina está presente também no sistema de recompensa, ou segundo Rodrigo, está presente na via mesocorticolímbica. Vamos compreender melhor isso e conhecer três áreas dessa via: Área Tegmentar Ventral (ATV), Nucleus accumbens e córtex frontal.

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Com base na dopamina, o nosso cérebro desenvolveu um sistema de recompensa, de modo a estimular comportamentos associados à sobrevivência, como alimentação, procriação e sociabilidade. Mas qual é a relação desse sistema de recompensa com as drogas?

As drogas agem em neurônios da ATV, aumentando a ativação destes, seja direta ou indiretamente. Com a ativação dos neurônios das ATV haverá maior liberação de dopamina no núcleo accumbens, o que gera a sensação de prazer, a via de recompensa. Ainda há interação dos neurônios da ATV com o córtex pré-frontal, área cerebral relacionada ao controle de impulsividade e à tomada de decisão.

O prazer surge quando a dopamina, produzida perto da parte superior do tronco encefálico (ATV), segue pelos neurônios e se distribui pelo sistema de recompensa encefálico. Em outras palavras, a ATV apresenta neurônios dopaminérgicos responsáveis pelo reforço e repetição de determinados comportamentos, que quando ocorrem, nos trazem resultados favoráveis e agradáveis devido à sua ativação.

Segundo o pesquisador, as drogas que provocam a dependência têm efeitos reforçadores; isto significa que sua procura é devido à capacidade de ativar esses mecanismos cerebrais responsáveis pelo reforço positivo. Vamos dar exemplos:

Se uma pessoa utiliza a maconha para relaxamento ou para recreação, e nessas situações, a droga deve estar sempre presente, já temos a dependência instalada.
Esta fase é chamada por muitos de dependência psicológica, da mesma forma que passar o dia inteiro esperando ansiosamente para assistir a novela das oito, ou um jogo de futebol.

No caso da cocaína, além do aumento da dopamina na área tegmentar ventral (AVT), há a permanência dela por mais tempo na fenda sináptica, aumentando a sensação de prazer devido a sua ação no núcleo accumbens. Como isso ocorre? A cocaína impede a remoção da dopamina da fenda sináptica, surgindo aí uma relação perigosa para o usuário. Sabe qual? Desejo e prazer se misturam ou “A mudança do gostar para o querer”, concluiu Rodrigo.

 

Autor: Ricardo Marques Couto

Revisor: Rodrigo Campos Cardoso