O cenário é um palco improvisado no espaço entre as cadeiras e o púlpito do anfiteatro vermelho no Hemocentro, onde acontecem as palestras do Adote um Cientista. Como finalização das atividades do ano, no dia 8 de dezembro, os alunos foram convidados a apresentar dramatizações dos roteiros produzidos por eles, supervisionados pelas suas professoras.

Os roteiros são fruto das oficinas de redação, que ministro semestralmente dentro do programa do Adote um cientista. Com auxílio de seus cadernos de anotações, os alunos foram desafiados a criarem pequenos roteiros de teatro, utilizando conceitos que aprenderam e julgam importantes nas palestras e grupos do Pequeno Cientista. Com o acompanhamento da professora Aline Dias Caetano Ignácio, de Luiz Antônio, fizeram a adaptação e montaram uma dramatização.

No dia da apresentação, Bárbara Naves, graduanda em Biologia, ex-aluna da Casa e hoje parte da equipe, orientava os grupos enquanto faziam um rápido ensaio. “Olhem para o placo, não fiquem de costas!”. “Precisam falar mais alto”. E até fazia correções conceituais do que estava sendo apresentado. Bárbara também criou uma espécie de coxia improvisada, onde os alunos aguardavam a hora para entrarem e se posicionarem no palco. “Fazer um roteiro de teatro desenvolve várias instâncias, como a criatividade e a escrita”, afirmou Bárbara.

Diversos grupos se apresentaram para o público de alunos e de pesquisadores. Dentre eles, o professor da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP) Guilherme Lucas, cuja palestra foi escolhida para criação do roteiro. “Os conceitos estavam perfeitos. Eu me senti muito orgulhoso! Primeiro porque os alunos se interessaram. Para um docente isso é muito legal. E segundo porque quem faz deve ter aprendido muito, teve que ler e se envolver”, explicou o professor.

Os alunos trabalharam com conceitos que envolvem a dor. Por meio da simulação de um infarto, explicam como ela ocorre no cérebro, abordando os conceitos de neurônios e sinapse. Veja abaixo um relato do roteiro dramatizado pelos alunos:

 

A história se passa num pronto-socorro. De cima do teatro descem pelas escadas duas meninas carregando outra nos braços. “Socorro, ajuda, por favor,”! Socorro!”. Duas enfermeiras, vestidas e paramentadas com jalecos, socorrem a senhora de cabelos brancos e a colocam numa cadeira de rodas.  Fazem os primeiros exames e a colocam num soro.

  • Vocês são as acompanhantes da Dona Aparecida? A mãe de vocês teve um principio de infarto, e está sendo medicada. E mais tarde já pode ir embora, afirma a enfermeira.

Na sala de espera, os familiares apreensivos aguardavam notícias. A enfermeira se aproxima e explica o ocorrido com D. Aparecida.

  • Bom dia, como vocês estão? , pergunta a enfermeira.
  • Olha, hoje não está sendo um bom dia, responde a filha.
  • Por quê? O que aconteceu? A médica já falou o que sua mãe teve?
  • Sim, foi um princípio de infarto!
  • Vamos conversar. Vocês estão tão aflitas.
  • Não sei por que existe dor, ela só causa sofrimento, desabafa uma das filhas.
  • Por um lado vocês estão certas de pensar assim. Mas a dor não é tão má.
  • Eu nunca vi um lado bom na dor.
  • Por um lado vocês estão certas. Vocês já pararam para pensar, o que é a dor? E qual é sua função no nosso organismo?
  • Olhando por esse lado não, responde a filha.
  • Vou tentar explicar para vocês. A dor é uma forma que nosso organismo encontra para avisar que algo de errado está acontecendo. E nosso sistema nervoso é o responsável pelo comando da dor.
  • Mas, como isso acontece?
  • O neurônio é o responsável pela transmissão e pelo reconhecimento da dor.
  • Mas como uma simples célula consegue fazer isso?
  • Na verdade, não é apenas um neurônio que exerce essa função, mas sim vários. Eles possuem propriedades importantes para isso. Como a estabilidade que permite que uma célula responda a estímulos.
  • Estímulos?
  • Sim, estímulos são impulsos elétricos. Os neurônios possuem propriedades importantes como “excitabilidade e condutibilidade elétrica, permitindo que eles transmitam impulsos elétricos. Além disso, os neurônios também são capazes de se comunicar por meio das sinapses.”*
  • Fale-me mais sobre a sinapse.
  • A sinapse “é um pequeno espaço entre dois neurônios. É por esse espaço que os neurônios se comunicam. O impulso elétrico que percorre um neurônio faz com que ele libere um mediador químico na sinapse. Chamamos esses mediadores químicos de neurotransmissores. Esses mediadores irão produzir um impulso elétrico no segundo neurônio que, por sua vez, poderá se comunicar com outros neurônios. Através da comunicação entre vários neurônios, um estímulo elétrico produzido pela dor no coração pode ser transmitido até o cérebro, onde ela será reconhecida. Em outras palavras, é através das sinapses que os neurônios transmitem a dor a partir do coração e a interpreta no cérebro”*
  • Então, você quer dizer que a dor avisa quando algo de ruim está acontecendo com nosso corpo?
  • Isso mesmo.
  • Mas vou dar um exemplo que vai fazer com que entendam melhor. Ela sentiu dores e vocês resolveram trazê-la aqui. Assim descobriram que ela estava com um pré-infarto.
  • Já pensou se ela não tivesse sentido essas dores? Ela poderia ter tido um infarto e a situação teria ficado pior, não é mesmo? É por isso que é importante, que quando sentimos uma dor, é importante chamar um médico.

Logo as enfermeiras chegam para avisar que chegou a hora da visita.

  • A senhora já está se sentindo melhor?
  • A mãe de vocês já tomou todos os medicamentos e já pode ir embora.

 

Finalizada a dramatização, o público certamente aprendeu um pouco mais sobre a dor e como o cérebro envia seus comandos.

*Conceitos corrigidos posteriormente pelo professor Guilherme Lucas (FMRP/USP), o qual ministrou a palestra “Por que sentimos dor?”, e foi orientador do Pequeno Cientista, com o tema “Explorando o sistema nervoso”, em 2016.

 

Texto por Gabriella Zauith