No dia 10 de agosto, os alunos do Adote um Cientista, programa desenvolvido pela Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto, tiveram uma tarde recheada de atividades. A ação contou com aproximadamente 120 estudantes de escolas públicas e particulares de Ribeirão Preto e região, com idade entre 12 e 17 anos.

Entre às 14h30 e 17h da tarde desse dia todos alunos passaram por três atividades organizadas pela equipe da Casa da Ciência que tinham o objetivo geral de apresentar o mundo celular aos alunos, sua complexa rede de organelas e suas funções, bem como a célula em si como a unidade estrutural da vida.

Antes de dar início ao cronograma, os alunos foram reunidos no Anfiteatro Vermelho para ouvir as orientações de como seriam desenvolvidas as atividades do dia e já aproveitar para tirar possíveis dúvidas prévias. Além disso, os participantes do Adote foram divididos em três turmas que se revezaram em um circuito entre os espaços em que as atividades estavam montadas, de forma que fosse possibilitado o trabalho em turmas menores que passassem por tudo que foi programado.

Alunos recebem instruções e tiram dúvidas com o biólogo Vinicius Moreno Godoy (responsável pelo Celularium) no Anfiteatro Vermelho.

Uma viagem imersiva ao interior de uma célula

O Celularium é uma cúpula inflável full dome (180°) com um projetor de tecnologia digital parecido com o tradicional Planetarium, mas que proporciona aos alunos uma experiência tridimensional dentro de uma célula. Um filme de aproximadamente 16 minutos simulava, assim, uma viagem de imersão pelos componentes da célula animal (eucariótica), trabalhando diversos conceitos sobre as funções de cada organela dentro da célula, bem como processos de divisão celular (meiose/mitose), aspectos da membrana celular, isto é, conceitos de biologia celular em geral. Foi a partir do aprendido nessa atividade, e dos conhecimentos prévios de cada aluno, que a investigação sobre o mundo das células foi instigada nas demais atividades.

A cúpula inflável do Celularium. Primeira foto (de baixo para cima) modificada de https://twitter.com/iearp e terceira cortesia de Eduardo Vidal (Centro de Terapia Celular)

Quem quer ser um Celularium?

Após assistir ao filme, os estudantes foram encaminhados novamente ao Anfiteatro Vermelho para responder questões sobre o tema, e o legal de tudo é que as respostas foram dadas por meio de votação eletrônica! Os integrantes da equipe da Casa, a fim de incentivar os alunos, montaram um quiz com diversas perguntas e para respondê-las o estudante tinha que selecionar a resposta no aparelho que lembrava um controle remoto, de forma semelhante à que ocorre em alguns programas de televisão. Também interessante foi que após cada rodada de respostas, a taxa de acertos era projetada, assim os alunos podiam ver graficamente a porcentagem de acertos ou erros discriminados por item, o que os permitia saber se erraram uma questão que seria “fácil” ou “difícil” de acordo com a média da turma.

As 10 perguntas feitas aos alunos abrangeram temas como diferenciar células eucarióticas de procarióticas, sobre as funções das organelas celulares e processos celulares (mitose, meiose, fagocitose, fotossíntese, etc.). Ainda, algumas delas foram realizadas com o uso de imagens de microscopia de células e/ou organelas tal como as vemos em instrumentos científicos, com o objetivo de estimular que os alunos pudessem transpor a compreensão de modelos de animações assistidos no Celularium ou aqueles comumente encontrados em livros didáticos para as estruturas em fotos reais.

De uma forma geral as perguntas relacionadas à mitocôndria obtiveram maiores taxas de acertos, mesmo quando utilizadas imagens de microscopia da organela. Por outro lado, o Complexo de Golgi, aparentemente menos popular e conhecido, causou mais dificuldade e levou a erros na pergunta sobre a organela.

Por fim, vale a pena citar que o processo celular da mitose, o qual não foi diretamente apresentado no Celularium, também não é muito compreendido pelos alunos, que erraram a pergunta em que tinham que identificar tal processo por meio de fotos de microscopia de cada uma das fases da mitose.

Quiz realizado no Anfiteatro Vermelho com votação eletrônica

Unidade e diversidade da vida

Enquanto isso, uma outra turma se reuniu no espaço conhecido como “toldo azul”, localizado na parte adjacente ao Anfiteatro Vermelho do Hemocentro, onde foi preparada uma atividade de observação e investigação. Diversos seres vivos fixados pertencentes às coleções biológicas do MuLEC (Museu e Laboratório de Ensino de Ciências) foram expostos, sendo que os alunos deviam responder questões relacionadas à identificação desses organismos (classificação biológica) e qual a constituição deles (constituídos por células? Se sim procariótica, eucariótica animal ou vegetal).

Uma dúvida que surgiu foi se, independente do material exposto, seres vivos são constituídos de células. Tal dúvida permitiu a intervenção pela equipe da casa para trabalhar as células como unidade da vida. Também houve confusão nos termos “eucarionte” e “procarionte”. Apesar de muitas vezes os alunos demonstrarem entenderem e saberem a diferença entre esses tipos de células, esses termos geraram confusão, como explicar de maneira correta o conteúdo mas inverter o nome do tipo celular.

Dentre os seres expostos um dos que mais chamou atenção foi o ermitão (ou caranguejo paguro), uma vez que a existência da concha de moluscos gastrópodes já mortos que o animal utiliza de abrigo suscitou a dúvida se ela pertencia ou não ao ermitão. Para muitos alunos o crustáceo observado era um molusco, visto que estava dentro de uma concha. Além disso, a presença de cracas (outro crustáceo) incrustadas nessa concha fez com que alguns alunos percebessem a existência de um segundo ser vivo no frasco, o que foi uma observação interessante.

Outro material que gerou dúvidas foram os corais em exibição. Para muitos alunos essa foi a primeira vez que viram tais animais (mesmo que fixados), o que levou à dificuldade na classificação deles. Diante disso, respostas afirmando os corais serem plantas, algas ou até mesmo rochas surgiram. Ou seja, houveram dúvidas em registrar se aquele ser vivo era de fato um ser vivo, e, caso fosse, que tipo de célula o constituiria (procariótica, eucariótica animal ou vegetal). Dúvida similar surgiu com os cogumelos (fungos) e até mesmo folhas de plantas, que despertavam dúvida se não teriam células procarióticas.

O inseto hemíptero (percevejo) conhecido popularmente como “barbeiro”, e geralmente bastante citado em salas de aula devido a sua importância médica (vetor da doença de chagas), também chamou atenção ao ser confundido com besouros ou baratas. Mesmo quando alguns alunos o identificaram como animal vetor da doença de chagas a identificação do barbeiro como um besouro persistia. Por outro lado, o peixe em exibição foi o que gerou maior segurança nas respostas dos alunos, que inclusive identificam ele como uma espécie de cascudo, ou ainda citavam características para tal classificação, como a presença de nadadeiras. Inclusive completavam que sim, o peixe era um animal e, portanto, teria célula eucariótica animal.

Atividade realizada no espaço do toldo azul

Uma tarde proveitosa para todos

Ao término das atividades todos os alunos foram reunidos novamente no Anfiteatro Vermelho, onde a pedido da equipe deram um feedback sobre o que acharam das atividades desenvolvidas no dia. O retorno foi positivo. Os estudantes gostaram bastante do Celularium e das demais atividades preparadas e, além de se divertirem com elas, afirmaram terem aprendido bastante coisa. Chamou a atenção o comentário deles “apesar de muitas dúvidas terem surgido”.

A equipe da Casa ressaltou mais uma vez que a ciência é justamente isso, e que no campo da pesquisa é importante saber fazer perguntas pertinentes mais do que ter todas as respostas e, para isso, o estudo e frequência no programa Adote um Cientista devem continuar! Sem dúvida uma tarde em que todos se divertiram e aprenderam pode ser considerada proveitosa para todos.

 

Texto: Caio M.C.A de Oliveira e Crislaine Messias

Revisão: Marisa Barbieri