No dia 13 de fevereiro demos início ao décimo ano do Adote um Cientista. Todo primeiro encontro traz surpresas e as nossas foram melhores do que esperávamos. Os grupos presentes estavam interessados e participativos. Já durante a abertura, os jovens prestavam tanta atenção na fala inicial que sequer encostavam-se às cadeiras do Anfiteatro Vermelho do Hemocentro. Muito atentos, os alunos procuravam responder e perguntar e não foi diferente no transcorrer de toda tarde. Será que conseguimos criar tradição ou é empolgação de primeiro dia? Vamos conferir ao longo dos outros encontros, mas o “clima” indica que se trata de “gente firme e muito afim”. Um destaque para professoras presentes – “cheias de gás”, nos dizeres da professora Sandra Spagnoli -, as quais garantem a presença dos alunos e colaboram para que o programa tenha o êxito que comprovam.
O estreitamento das relações com as escolas, ano a ano, tem sido uma das razões para que os objetivos do Adote sejam alcançados e os resultados possam ser percebidos. Os professores acompanham e conferem o desempenho dos alunos, ao mesmo tempo em que cuidam do transporte, da segurança, às vezes da alimentação e da melhor relação entre o Hemocentro, escolas e pais dos alunos.
As prefeituras das cidades de Luis Antonio e Dumont têm disponibilizado ônibus para um grupo de alunos e sabemos que há lista de espera como jovens interessados em frequentar os programas da Casa. Pais torcem para que seus filhos sejam selecionados. Santa Cruz da Esperança e Batatais deixaram de vir para tristeza dos jovens, os quais deixaram registrados bons trabalhos. Por falta de transporte e acompanhante, a participação de alunos de Ribeirão Preto é esporádica, como foram as escolas do Sesi, que também registraram entusiasmada participação. Alguns continuam vindo e deixam sua marca de sempre querer saber mais.
O programa Adote um Cientista, recomendado por avaliadores, especialmente os do projeto CTC/Cepid, tem sua maior força nos encontros com pesquisadores, tanto nas palestras como nas orientações. As avaliações e o feedback positivo – com grande destaque para o site, que já completou mais de 1 milhão de acessos – deram origem a mais dois programas – o Pequeno cientista e o recém-criado Saltimbancos da Ciência. Embora sejam parecidos, no primeiro, o pesquisador orienta segundo sua linha de pesquisa em, no máximo, 10 encontros semanais por semestre; no caso do Saltimbancos, alunos e professores, junto com orientadores, apresentam ideias e perguntas que gostariam de investigar em trabalhos que sejam mais voltados para as condições e peculiaridades das escolas.
O Saltimbancos seria o extraclasse das escolas e – guardadas as diferenças ditadas pelas condições pouco favoráveis destas – equivaleria aos projetos de iniciação científica das universidades, os quais prolongam os programas dos professores-pesquisadores. O programa tem o valor de antecipar para os jovens, o contato com pequenos trabalhos científicos, cuja importância é inegável; também uma oportunidade de descobrir vocações, além de cobrir, de certa forma, a falta de aulas práticas em nas escolas. Já alcançamos alguns resultados em cinco encontros de apenas 40 minutos, no final de 2013; logo após as palestras do Adote, professores, alguns alunos e pesquisadores se reuniam; as propostas que surgiram estavam relacionadas aos hábitos alimentares e índice de massa corporal dos alunos, suas atividades físicas, tempo de sono e desempenho escolar; enfim, há um interesse evidente em investigar fatores que, segundo eles, precisam ser conhecidos para incrementar melhorias nas escolas; a maior dificuldade, como já era esperado pelos pesquisadores, é a questão metodológica; com uma certa ansiedade em logo alcançar resultados e a pouca familiaridade com trabalhos de investigação, faz com que iniciantes “embolem” os dados; mas assim mesmo, em Luis Antonio, descobriram que os alunos menos preocupados em estudar são os que declaram querer cursar carreiras mais concorridas em vestibulares (como se fosse mágico); em Dumont fizeram uma enquete – com 6ºs anos à 9ºs anos – sobre alcoolismo e surpreenderam-se pelo fato de meninos e meninas já terem ingerido bebidas alcóolicas muito cedo; sendo que, na relação entre os que já ingeriram bebidas alcóolicas, as meninas de 6º, 7º e 8º anos lideram, enquanto no 9º são os meninos; embora sem grande disparidade, os resultados esperados eram que os 9º anos tivessem uma porcentagem maior do que os outros anos e ainda que os meninos fizessem mais ingestão. E com a pesquisa descobriram o contrário. O que levantou dúvidas dos próprios alunos-entrevistadores se realmente os alunos foram sinceros nas respostas; entre as respostas, que consideraram realmente sinceras, perceberam a influência de familiares, amigos e a mídia contribuindo para os alunos experimentarem bebida alcóolica.
Na segunda parte deste primeiro encontro foram apresentadas algumas atividades realizadas na 7ª edição do Férias com Ciência (evento pontual que ocorreu em janeiro), relacionadas à padrões e repetições encontrados na natureza, como em biomas, cujas explicações foram apresentadas com o auxílio da Matemática.
Quando abordada a Matemática em uma questão sobre padrões em triângulos, os alunos do Adote logo se prontificaram a responder que 180°graus é a somatória dos ângulos internos. Neste ano de 2014, os públicos de Adote e Férias são diferentes. A maioria dos alunos do Adote estão frequentando pela primeira vez, são muito animados e têm apresentado um espírito mais voraz por aprendizado e participação.
Além de aprender relacionando conceitos, ter seriedade e estudar todos os dias é uma das lições que aprendem na Casa.
Texto: Profa. Dra. Marisa Ramos Barbieri – Coordenadora da Casa da Ciência.