Gato preto dá azar? Mariposas são um mau presságio? Macacos transmitem febre amarela? Mitos, crenças e lendas envolvendo animais foram o tema do grupo “A bruxa tá solta: a matemática das crendices populares”, orientado pela bióloga Flávia Regina Bueno e Denise Bernardo Lemes, formada em economia. O objetivo foi juntar os conceitos de ambas as áreas. “Tudo está interligado, e não podemos colocar o conhecimento em disciplinas separadas”, afirmaram as orientadoras. Para isso, desenvolveram a aplicação de um questionário sobre o tema, tabularam os resultados e fizeram análise de gráficos.
A pedido dos alunos, foram organizadas visitas a laboratórios de comportamento animal, de abelhas e biotério de criação de roedores. “O objetivo foi desmistificar a figura do cientista, e falar da importância da pesquisa científica e da divulgação, para melhor esclarecimento da população”, afirmou Denise. A mídia também foi abordada ao disseminar crenças de animais vítimas de preconceito como gambás e sapos, por meio de fake news. E suas consequências para os animais, como a notícia falsa, veiculada pelo Facebook, de um puma que havia atacado um cachorro no município de São Miguel do Iguaçu, o que poderia acarretar na perseguição aos pumas e onças da região.
Mitos e os animais
O grupo trabalhou conceitos do comportamento dos animais, a Etologia, e também da Etnozoologia, estudo multidisciplinar das relações entre as culturas humanas e os animais (não humanos), onde mostrou-se o interesse muito antigo do homem pelo comportamento animal. Mitos envolvendo animais, desde insetos a mamíferos, fazem com que as pessoas acreditem que certos animais são perigosos ou transmitem doenças. Grilos, baratas e formigas são encontrados em lendas e fábulas do folclore brasileiro. Outro mito está relacionado à mariposa, chamada popularmente de “bruxa”. A crença vem da Idade Média, em que as mulheres consideradas bruxas poderiam se transformar em mariposas pretas.
Filmes e animações também retratam essas relações. Em “Madagascar”, a libertação dos animais de zoológico é diferente da realidade de animais de cativeiro sobreviverem num ambiente externo. Documentários e animações também mostram um contraste, de um lado, uma relação de proximidade e admiração com animais selvagens. Mas, na vida real, não é raro observar matança de animais silvestres, como onças, exibindo os animais mortos como troféu.
Sete vidas
Por que os gatos têm sete vidas? Esses animais povoam há muito tempo o imaginário das pessoas. Essa história, que provavelmente remonta à Idade Média, transmitida ao longo dos anos, está relacionada à capacidade de os gatos serem mais resistentes à doenças, em comparação aos cachorros. Também foram associados às bruxas, e muitos foram sacrificados. Por causa dessa lenda, a execução dos gatos teria aumentado da população dos ratos, cujas pulgas teriam disseminado a peste negra. Mas, pesquisas recentes mostram que outras questões devem ser associadas, como a falta de saneamento básico, e falta de conhecimento em relação às doenças.
Mais próxima à nossa realidade, existe a crença errônea que os macacos, principalmente os bugios, transmitem a febre amarela – cuja transmissão se dá por meio de vetores, mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Isso provoca uma matança desses animais na tentativa de diminuir a transmissão da doença. Para isso, mostraram gráficos com números de mortes causadas pela febre amarela, em determinados estados. “Quando um macaco está infectado e morre, pode ser um sinal para entender a dispersão da doença”, disse Denise.
Matemática e jogos
Usando os recursos da matemática, os alunos aplicaram um questionário sobre as crendices populares para mais de 100 pessoas, de diferentes faixas etárias. Para isso, compreenderam a diferença entre pesquisa escolar e a científica. Fizeram análise com a planilha de excel e tabulação dos dados, mostrando a importância da estatística como forma de coleta.
Para o pré-mural, os alunos relacionaram temas que julgaram mais importantes e elaboraram um roteiro. Para o Mural, os alunos fizeram pesquisas de reportagens e produziram materiais. A aluna Tainá apresentou um jogo envolvendo conceitos estudados, entre eles comportamento aprendido e inato (não aprendido), com a utilização de figuras. Outra brincadeira foi um jogo de adivinhação com animais que despertam o interesse e muitas vezes o medo (muitas vezes inexplicável) dos seres humanos.
Animais racionais ou irracionais?
O que diferencia o homem dos outros animais? Essa discussão surgiu do livro “Sapiens: uma breve história da humanidade”, de Yuval Harari. “Na revolução cognitiva, o homem desenvolveu a capacidade para se comunicar e contar fatos que aconteceram, ou seja, o homem passou a inventar e contar histórias. Foi a partir daí que surgiram os mitos, e a capacidade de acreditar em coisas que não existem. E isso os animais não têm, embora tenham capacidades cognitivas que os classifiquem igualmente como racionais”, explicou Flávia. Essa capacidade faz com que o homem transmita informações à sua volta, verdadeiras, e falsas também.
A famosa foto de patinhos seguirem a mãe pata mostra o “imprinting”, um tipo de comportamento inato que ocorre com gansos, patos e galinhas, descrito pelo pesquisador austríaco Konrad Lorenz. “Assim que eles saem do ovo, filhotes seguem a primeira pessoa que veem na frente: acham que é sua mãe e a acompanham por toda parte. Uma forma de terem uma referência, para se sentirem seguros e conseguirem alimentação”, explicou Flávia. O tema, abordado no Mural, foi questionado por um dos avaliadores: “os seres humanos também sofrem imprinting ao longo da vida?”. Sem respostas, instigou os alunos: “como você aprendeu a falar?”. Entusiasmados, rapidamente contaram às orientadoras o que haviam aprendido.
Texto: Gabriella Zauith
Revisão: Flávia Regina Bueno
Orientadoras:
Flávia Regina Bueno
Denise Bernardo Lemes
Alunos:
Ana Eduarda Pereira de Oliveira
Dumayne Pereira
Maria Clara de Oliveira do Nascimento
Sergio Oliveira Tozetto Neto
Tainá Aranha da Rocha
Thierry Martins Damaceno Carvalho
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