Na Casa da Ciência, a ação do aluno é valorizada e estimulada pela equipe que acompanha de forma vigilante as suas manifestações. E passam a ser esperadas depois de certo tempo participando dos programas. A ação é fruto da interação ativa dos alunos com o meio, levando-os a organizar o que aprendem. Segundo Piaget, o conhecimento se constrói através do “fazer com”, “no meio”. Assim, sem teorizar, mas com a certeza deste caminho em 16 anos de atividades, a Casa prioriza diversas formas de manifestação como: criar roteiros e peças de teatro, fazer música, inventar poesia, apresentar-se no Mural, falar na escola, e o mais corriqueiro, perguntar ao pesquisador ou expor seu conhecimento. Sempre em grupo, trocando informações.

Felipe, 16 anos, foi desafiado pela equipe a se apresentar em uma aula da disciplina Pediatria Social, no Programa de pós-graduação Saúde da Criança e do Adolescente (FMRP/USP). Preparou sobre o tema de “meiose”, assunto do grupo “Genoma” (2005), o qual era integrante. Aprofundou o assunto com palestra sobre “complexo sinaptonêmico”, ministrado anteriormente pela pesquisadora Rita Carrara no Adote.  Na apresentação o aluno consultava o livro, seu caderno de anotações, e fez um esquema na lousa:

Felipe: – Aqui fica o complexo sinaptonêmico (CS); é formado dor 3 subitens: dois ligados a cromátides e um central. Nesse central ocorre a produção de proteínas que são os nodos de recombinação. Nessa fase as pessoas chamam de crossing-over, mas como eu sou nacionalista chamo de permuta (risos). Os nodos “quebram” os genes e levam para seu interior. No diplóteno ele começa a se abrir e onde tiver os nodos, as cromátides ficam presas, começam a se aproximar e formam o cruzamento (quiasmas).

Pós graduanda: – Esse é o livro usado pelos estudantes de medicina. É muito detalhado e complexo.

Felipe: – É que eu estava procurando algo mais complexo. Tirei na biblioteca da escola (EE Otoniel Mota de Ribeirão Preto). Um livro que falava de célula, daí biologia celular (mostrando o livro clássico do Junqueira e Carneiro) e que falava da parte bioquímica, daí molecular, (mostrando o livro novamente). Os livros da escola falam pouco, só uma página e meia, e esse livro tem sete páginas de meiose. (2006)

Este praticante de “le parcoor” que chegava à Casa de skate, percebeu que os livros que consultava não eram suficientes para tirar suas dúvidas. Foi à biblioteca de sua escola e procurou alguns livros que tratavam do tema. Levou para casa “o maior, que tivesse mais páginas sobre o assunto, eram doze páginas só de meiose!”. Mal sabia Felipe que escolhera um dos livros “clássicos” usados na graduação no assunto citologia, escrito por Junqueira e Carneiro.

Esta maneira de agir se repete nas condutas dos alunos frequentadores da Casa quando desejam compreender os assuntos em profundidade. Buscam suas fontes em livros ou internet. Se o objetivo é falar em público, como ocorre no Mural ou numa apresentação, se dedicam e se esforçam com entusiasmo.

Texto Flavia Fulukava

Edição Gabriella Zauith