Caderno de anotação: os alunos ingressantes já valorizam?

Na busca por resultados de aprendizagem, a Casa da Ciência persegue as diferentes manifestações dos alunos, muitas delas durante as conversas com pesquisadores e com a equipe sobre os conteúdos. Outra forma de perceber aspectos importantes que os alunos aprendem é através dos questionários que são aplicados no início de cada ano.

Estes questionários ajudam a compreender mudanças de atitude nos alunos, depois de um tempo participando da Casa. Mudanças que têm sido confirmadas desde 2006, através da análise de falas, entrevistas e outros registros em vídeo ou impressos, armazenados no Ponto de Informação, Pesquisa e Organização em Ciência (PIPOC).

Este ano, a equipe notou algo curioso: o resultado da análise referente ao grupo de alunos “novos” ficou próximo ao resultado esperado nas respostas dos “alunos antigos” (aqueles que já frequentam ou já frequentaram a Casa). O questionário em questão foi respondido por 57 alunos ingressantes em nossos programas presenciais, provenientes das cidades de Luís Antônio, Dumont e Ribeirão Preto.

Já havia sido levantado, anteriormente, que após um tempo no projeto, os alunos sentem a necessidade de anotar o que aprendem (para se lembrar em casa sobre o que foi falado, compartilhar com outra pessoa, escrever uma redação, etc.) e percebem que precisam fazê-lo, passando a valorizar seus caderno, já que o que é exposto pelos pesquisadores muitas vezes não está nos livros, e o caderno passa a ser um precioso guarda-conhecimento.

No último ano, porém, um dos resultados obtidos através dos questionários foi que 81% dos alunos “novos” diz já ter o costume de anotar antes participar dos programas da Casa. Ou seja, a maioria dos alunos ingressantes diz ter o costume de anotar e o fazê-lo na escola.

Esse é um resultado inesperado, quando se leva em consideração os resultados de anos anteriores, e que permite o levantamento de algumas hipóteses.Estariam os alunos chegando diferentes no projeto? Estão “contaminados” pelos alunos antigos, uma vez que trocam informações e experiências entre si? Recebem instruções dos professores ou de alguém que já conhece as propostas da Casa? Ou, até mesmo, são “induzidos” a responder o que parece o “certo” ou “esperado” para a equipe da Casa?

Quando lhes é perguntado qual a vantagem de anotar, respostas interessantes surgem. Uma surpresa ficou por conta de quatro alunos que afirmaram “anotar além do necessário”:

 

“Você pega dicas e curiosidades sobre a matéria.”

“É importante anotar o que o professor fala, mesmo fora do conteúdo, como uma vantagem de estudo.”

“Ajuda a complementar a matéria com algo que o professor disse.”

“Por dados que não estão na matéria copiada e nem nos livros, que o professor apenas comenta e podem ajudar no decorrer do ano.”

O esperado, nas respostas dos alunos ingressantes, é que ou não anotem antes de vir participar do programa, ou que o façam para estudar para a prova (uso superficial da anotação) e não para ter “vantagem de estudo”, registrando conteúdo “fora da matéria”, como mencionado por um dos alunos citados.  É curioso que grande parte dos alunos ingressantes tenha afirmado anotar, mas é difícil saber se anotam realmente, o que e como anotam – ou se utilizam a anotação de forma superficial. O que é anotar, na escola, para os alunos?

Se for, de fato, uma contaminação o que levou os alunos a responder dessa forma, talvez essa seja uma contaminação boa. É preciso investigar, portanto, se os novos alunos, ao contrário do esperado, estão chegando ao projeto valorizando seus cadernos ou se apenas respondem o que acham que a Casa quer ouvir, sem valorizar a anotação.  Essa análise, de grande importância, permite que os instrumentos de avaliação inicial sejam repensados, focando em aspectos que possam ser mais claramente identificáveis para constatar as mudanças nas atitudes dos alunos que passam pelos programas da Casa da Ciência.

texto por Flávia Prado

edição por Vinicius Anelli