Estratégias reprodutivas e seleção sexual em animais não-humanos

Em sua primeira participação nos programas da Casa da Ciência, a mestranda em Psicobiologia pelo Laboratório de Etologia e Bioacústica, Paula Verzola-Olívio, trouxe ao Adote um Cientista alguns tópicos sobre comportamento animal e reprodução. No início de sua fala, Paula explicou que a Etologia é a ciência que estuda o comportamento dos animais e um dos seus desdobramentos é entender como ocorre o pareamento de indivíduos de uma mesma espécie para a reprodução.

 

Os diferentes papéis sexuais
A pesquisadora trouxe, para a primeira parte de sua palestra, um pouco do que é visto na natureza em relação ao papel sexual dos machos e das fêmeas. Um exemplo para ilustração foi o do pássaro Caramanchão acetinado. Nesta espécie, o macho tenta atrair a atenção da fêmea construindo um caramanchão (um local onde macho e fêmea irão copular) e a fêmea escolhe o macho de acordo com as características deste “love nest”: de preferência, aquele caramanchão que possui mais objetos da cor azul.

Os gametas dos animais possuem morfologias diferentes (anisogâmicos) e isso reflete no papel de cada sexo. Os machos produzem espermatozoides, que são gametas pequenos, porém em maior quantidade e que são bastante eficientes na fecundação. Já os óvulos, das fêmeas, são menos números, maiores e eficientes no desenvolvimento do embrião. Por isso, os gametas dos machos favorecem uma estratégia que busque um maior número de descendentes (para o macho, é mais vantajoso copular com um maior número de fêmeas), enquanto as fêmeas costumam apresentar um maior investimento parental (para as fêmeas, é mais vantajoso escolher um macho melhor).

 

preas2Seleção sexual e sistemas de acasalamento
Reproduzir é essencial para a perpetuação da espécie. Da mesma forma, para os indivíduos, é de extrema importância se reproduzir e passar para as gerações seguintes seu material genético. Assim como na seleção natural as condições ambientais agem de forma a, em linhas gerais, favorecer indivíduos com características mais “vantajosas”, na seleção sexual os indivíduos que se pareiam e acasalam também são favorecidos.
Isso pode ocorrer devido a uma estrutura que chame a atenção da fêmea, ou a um ninho mais bem construído, ou mesmo a um caramanchão com mais tons de azul. O fato é que o indivíduo que se reproduz consegue passar seus genes para seus descendentes, enquanto o indivíduo que não se reproduz, não consegue.
Paula explicou aos alunos que é mais comum que a fêmea escolha o macho. Por isso, muitos machos apresentam estruturas, estratégias e comportamentos que estão relacionados à essa escolha.
A corte é outra característica bastante estudada. Confere isolamento reprodutivo (na corte de sapos, por exemplo, a fêmea distingue o macho de sua espécie por nuances em seu canto), competição intra-sexual (quando machos da mesma espécie competem por uma mesma fêmea) e avaliação por parte de fêmea, que utiliza o que é exibido na corte para escolher o melhor macho.

 

Paula também falou sobre os diferentes sistemas de acasalamento, explicando a monogamia, poliandria e os diferentes tipos de poliginia.
Durante a palestra, trouxe vídeos e áudios, para exemplificar os comportamentos mencionados. Paula, que trabalha com aspectos da bioacústica de porquinhos-da-índia, mostrou alguns vídeos e também o canto de corte da espécie para os alunos. Explicou que algumas notas e tons do canto podem soar imperceptíveis para nossos ouvidos, mas são claros para os indivíduos da espécie.

 

preas5Comportamento social e condições experimentais
Ao fim de sua fala, foi levantada uma discussão sobre comportamento solitário e social em algumas espécies. Um aluno comentou que um leão solitário pode encontrar uma fêmea, acasalar e voltar a ser solitário, mas isso levantou um ponto interessante: a diferença entre estar sozinho e ter um comportamento social. No caso, leões formam haréns, nos quais um macho vive com várias fêmeas. Seus filhotes, quando mais adultos, são “expulsos” do grupo e terão que encontrar e formar seu próprio harém. Se encontrarmos esse indivíduo vagando pela floresta, solitário, isso pode nos confundir em relação a seu comportamento: mas é uma espécie de comportamento social. Paula explicou que, além disso, há diferentes níveis de socialidade. Uma caso de elevado nível de socialidade, por exemplo, são as abelhas, que vivem em colônias onde ocorre divisão de tarefas.

 

“Pode ser considerado um animal solitário se ele se reproduz sozinho, só um animal? Por exemplo a estrela-do-mar, que se cortar uma parte dela forma outra?”

 

Paula explicou que não, e trouxe um pouco sobre a diferença entre comportamento social e tipo de reprodução. Um indivíduo pode se reproduzir assexuadamente mas viver em grupos ou mesmo em colônias. Mesmo assim, essa proximidade não justifica nem informa se aquela é uma espécie de comportamento social.

 

“Os animais em cativeiro se comportam da mesma forma, por exemplo, quanto à corte?”

 

“Depende da espécie”, ela respondeu.
No caso dos porquinhos-da-índia, se trata de uma espécie domesticada. Por outro lado, preás, que são do mesmo gêneros que os porquinhos, são selvagens – apesar do display de corte ser muito parecido. Quando submetidos a stress (o que pode ocorrer quando são colocados em cativeiro, por exemplo), os animais podem inibir seu display de corte e, inclusive, não reproduzir.
Em sua fala, permeada por diversos conceitos da etologia, Paula trouxe muitos exemplos de comportamentos sexuais, mostrando aos alunos do programa um pouco mais sobre os estudos desta área do conhecimento. Bastante dinâmica, sua aula valorizou a vida animal como um todo e trabalho um assunto inerente à vida, que é a reprodução.

Escrito por Vinicius Anelli

Revisado por Marisa Barbieri