O câncer, que é uma das principais causas de morte no mundo, foi tema do encontro do Adote um Cientista no dia 9 de maio. Dados da OMS revelam que 7,6 milhões de pessoas morreram em decorrência da doença em 2008, o número corresponde a 13% do total das mortes mundiais. O pesquisador Daniel Antunes Moreno conversou com os alunos sobre o surgimento e desenvolvimento da doença, caracterizada pela criação de células anormais que crescem além dos seus limites usuais e que podem invadir tecidos próximo ao original e se espalhar para outros órgãos. Diversos conceitos relacionados à genética foram discutidos e alguns alunos foram surpreendidos por novos termos, como apoptose, neoplasia e mestástase.

Nas palavras do palestrante

Câncer é um termo utilizado para descrever várias doenças genéticas diferentes caracterizadas por alterações em mecanismos que controlam o ciclo celular. Células adquirem uma sucessão de capacidades que propiciam a proliferação e com auxílio do microambiente, pode resultar no desenvolvimento do câncer. Células neoplásicas podem invadir tecidos sadios adjacentes e podem se espalhar para outras regiões do corpo resultando em graves consequências.
O câncer é atualmente uma das principais causas de morte e pode apresentar causas externas e internas. Determinadas alterações genéticas e fatores ambientais podem predispor o indivíduo a desenvolver câncer.
Nos últimos anos, grupos de pesquisas em diversos países identificaram muitas alterações genéticas em muitos tipos de câncer. Essas descobertas melhoraram as estratégias de tratamento aumentando a sobrevida e dos pacientes e foram importantes também para aumentar o nosso conhecimento sobre a biologia do câncer.

Daniel Antunes Moreno

Doutor em genética – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP

Até poucas décadas atrás, acreditava-se que as mutações genéticas eram os únicos fatores que provocavam alterações na expressão gênica e, possivelmente, poderiam conduzir a cânceres. Entretanto, com o aumento do conhecimento produzido nesta área, uma nova frente de pesquisa se fortaleceu e vem investigando questões complexas que envolvem toda a maquinaria celular. Na Epigenética são estudados os mecanismos químico-biológicos responsáveis pelo aumento ou diminuição da expressão gênica, que interferem na dinâmica da célula. Processos como metilação e hidroximetilação, são exemplos de vias de ação molecular, que podem resultar no silenciamento de genes. O resultado desta interação pode ser diversa, conforme o tipo de gene envolvido. Oncogenes, genes supressores de tumor e genes de reparo são valiosos para a célula e qualquer alteração na sua manifestação pode ser muito “perigoso”. Sua integridade garante um ciclo celular “equilibrado”, que inclui uma morte programada, a conhecida apoptose.
O pesquisador Daniel Moreno explicou que essas interações moleculares são reflexos de fatores internos (10% a 20%) e externos (80% a 90%) as células dos diferentes organismos, que podem levar à manifestação do câncer. Compreender a complexa malha por trás de uma célula neoplásica* exige do pesquisador (ou melhor dizendo, de vários que se associam para construir novos saberes) a articulação de diferentes linhas de conhecimento e o uso de instrumentos de alta tecnologia, como o uso de micro-RNAs.

Durante o encontro, Sandra Spagnoli, professora no município de Luis Antônio – SP, questionou: “Na radioterapia, usa-se a radiação como tratamento, mas a radiação também causa câncer. Como é esta relação entre causa e cura?”.
Daniel: “A diferença está na dosagem. Uma dose pequena de radiação pode causar mutações nas células, enquanto que uma dosagem maior, pode levar a célula à apoptose”.

Conceitos como os RNAs não codificantes – responsáveis pela regulação da expressão gênica – direcionaram os estudos para além do dogma central da genética, que responde a 2% a 3% da expressão gênica que alcança a síntese de uma proteína. Os outros 97 a 98% dos genes – que, num passado recente, eram conhecidos como DNA lixo – são responsáveis pela síntese de RNAs não codificantes, importantes reguladores da célula. Esses genes estão no alvo da ciência, que busca investigar esta complexa inter-relação, muitas vezes aplicadas na manifestação dos cânceres.

Intrigado, o aluno Leonardo Bugory perguntou: “Não podemos ‘criar’ uma célula com mutação controlada para cuidar das células alteradas do câncer?”.
Daniel: Nós não conhecemos completamente os sistemas de controle envolvidos no câncer. Estamos estudando exatamente isso.
A ciência avança, explicitada e manifestada em grandes projetos. Da mesma forma que o projeto Genoma foi um grande salto para as hipóteses, os projetos Transcriptoma, Proteoma e Fisioma também contribuíram e continuam colaborando para a produção de novos conhecimentos. O Epigenoma Humano não é diferente, uma área da ciência que vem construindo novos caminhos para se compreender a escala molecular da vida.

 

10 características das células neoplásicas:
1. capacidade de manter proliferação
2. desconsideração dos sinais de parada de proliferação
3. potencial de replicação ilimitado ou “imortalidade”
4. evasão da apoptose ou resistência à morte celular
5. angiogênese (vasos sanguíneos são “recrutados” para o tecido em proliferação)
6. invasão e metástase
7. proteção contra o sistema imune
8. desregulação do metabolismo energético
9. instabilidade genômica e mutações
10. processos inflamatórios


Espaço dos alunos

A partir da análise das filipetas do encontro, a equipe da Casa da Ciência produziu este infográfico destacando as principais dúvidas manifestadas pelos alunos e os principais conceitos aprendidos no encontro. A finalidade deste instrumento é a avaliação dos momentos de aprendizagem do aluno e valorização da sua dúvida.