O mundo como ele realmente é.

A Gincana consistia em 10 experimentos clássicos no ensino de ciências, separados em bancadas. Nestes, estavam envolvidos conceitos fundamentais da química, física, biologia, matemática, português e outras ciências. Cada aluno teria 1 minuto e 30 segundos para analisar a experiência montada e responder algumas questões, baseando-se apenas na observação dos fenômenos indicados e seus conhecimentos prévios. Alguns dos resultados desse dia cheio de curiosidades e aprendizado você confere abaixo!

A primeira questão referia-se ao uso de um instrumento de medida métrica muito conhecido por todos, a régua, bem como da escala para determinar a distância, em linha reta, entre Ribeirão Preto e São Paulo, Ribeirão Preto e São Carlos e Ribeirão Preto e Sertãozinho. Após determinar as medidas, o enunciado pedia para que o aluno determinasse o tempo de viagem que um carro, a 100 km/h, gastaria em cada uma das distâncias. Para nossa surpresa, 96,5% dos alunos responderam de forma incorreta ou não responderam a questão. Identificamos que, apesar de indicado no enunciado, muitos não utilizaram a escala e informaram suas  medidas em centímetros. É interessante ressaltar que na última pergunta, em que se pedia o tempo de viagem de acordo com a velocidade, 88% dos alunos não responderam a questão, o que pode indicar uma má aproximação dos conteúdos aprendidos na matemática com o cotidiano de quem a “aprende”. Apesar do conceito de velocidade média ser explicitado geralmente apenas no ensino médio, a resposta poderia ser elaborada utilizando como instrumento a tão conhecida “regra de três”, que por vezes exercitamos em sala, mas aparentemente é lá que ela se mantém.

Na terceira observação os alunos encontravam-se frente a um ramo de jaqueira, com o caule imerso em água e com as folhas cobertas por um saco plástico (vedado à boca do recipiente com água para evitar a entrada ou saída de gases). A primeira das duas questões evidenciava a presença de gotículas de água no interior do plástico devido à transpiração vegetal, e perguntava por que as plantas precisam respirar, visto que ambos os fenômenos estão intimamente relacionados. Já a segunda buscava qual a importância do plástico para a experiência, explorando uma análise não do conteúdo apreendido, mas sim acerca do método científico. 59,5% dos alunos responderam de forma incorreta, 28,5% não respondeu e apenas 12% das respostas estavam corretas. A maioria das respostas da primeira pergunta relacionava o processo de respiração ao de fotossíntese, porém no formato causa e consequência: “as plantas precisam respirar para fazer fotossíntese”. Ambos os processos estão intrinsicamente relacionados, porém são processos independentes. A ideia de que as plantas fazem apenas fotossíntese é fortemente enraizada nos alunos do ensino regular, inclusive quando este processo é apresentado como o “gerador de energia” da planta. A fotossíntese produz o açúcar que será quebrado, para apenas depois gerar energia, sem o gás oxigênio, obtido na respiração, esta quebra não ocorre em células vegetais.

Na bancada de número 7 duas metades de uma batata foram deixadas expostas, uma com sal em seu interior e outra sem. Após o enunciado explicitar qual o conteúdo branco na batata, as três perguntas que se seguiam tinham como objetivo explorar os conhecimentos do observador sobre o processo de osmose. Quanto mais as batatas eram deixadas na bancada, mais água se acumulava na que estava com sal, enquanto a outra apresentava pouco ou nenhum líquido. Quando questionados sobre as mudanças entre as duas batatas, 80% afirmou que a principal diferença entre elas era a presença de algum líquido na metade com sal, 65% afirmou, corretamente,que este líquido era água, mas 86% não soube responder, ou respondeu de maneira incorreta, qual processo provocava esta presença de água em apenas uma das metades. 14% respondeu que se tratava da desidratação” da batata, o que não está errado, visto que a desidratação é a perda de água de determinado organismo. Apenas 1 aluno indicou o nome do processo. Você nunca se perguntou o porque da alface murchar quando a deixamos muito tempo com o tempero?

A última experiência envolvia água quente, açúcar, fermento biológico, uma proveta e uma bexiga. Quando os três primeiros materiais citados foram misturados na proveta, e esta tampada pela bexiga, dentro de alguns minutos o balão começava a encher. O fenômeno criado é o mesmo que possibilita o crescimento de pães, a fabricação de cervejas e vinhos: a fermentação alcoólica, mas apenas 12% indicaram o processo correto. Quando falamos de fermentação alcoólica devemos ter em mente que, diferente da química, ela envolve organismos vivos (leveduras), que quebram o açúcar disponível e liberam gás carbônico, o que faz a bexiga encher. 67% das respostas sobre qual gás era encontrado na bexiga estavam incorretas ou não haviam sido preenchidas, e quando perguntamos o que tem no fermento biológico que faz com que esse processo ocorra 71% não respondeu, 17% respondeu de forma incorreta e 12% acertou a questão.

De forma geral, todas as questões aplicadas ao longo da Gincana tinham o objetivo de identificar a aproximação do aluno com o conteúdo que aprende em sala. Mas infelizmente a ideologia de “aprender = apreender” permanece apenas no plano da teoria. Quando um aluno não extravasa seus conhecimentos para além da sala de aula tudo o que lhe é ensinado permanece em duas dimensões, fixado ao livro didático e sem conexão com o mundo exterior. Porém, quando há o envolvimento do conteúdo com as simples tarefas do dia a dia, como fazer um pão, por exemplo, ele deixa de ser uma matéria ou conceito estudado, e passa a ser o mundo como ele realmente é.

 

Texto por Bárbara Benati

Revisão de  Caio Oliveira e Marisa Barbieri