História da imunoterapia no
tratamento do câncer

         A IMUNOTERAPIA tem como objetivo intensificar a resposta imunológica contra células do câncer. Para isso, diferentes componentes do sistema imunológico, como células, antígenos, anticorpos e proteínas (chamadas citocinas) vêm sendo utilizados.

         O primeiro relato de que a imunoterapia foi utilizada no tratamento do câncer ocorreu em 1866, quando dois cientistas alemães observaram a diminuição do tamanho do câncer em pacientes acidentalmente infectados por bactérias. Em 1891, William Bradley Coley (o pai da imunoterapia) utilizou bactérias para o tratamento de pacientes com câncer. A ideia desse tratamento é que a injeção de bactérias irá estimular a resposta imunológica, resultando na destruição das células cancerígenas. Essa forma de tratamento é utilizada até hoje, como no tratamento de câncer de bexiga, no qual pacientes recebem uma injeção (contendo a bactéria da tuberculose atenuada) no local do câncer.

         As vacinas contra o câncer também são uma forma interessante de tratamento, sendo a primeira vacina descrita em 1959. Para isso, os pesquisadores isolaram células cancerígenas, fizeram um lisado dessas células em laboratório e injetaram posteriormente nos pacientes com câncer. Além desse tipo de vacina tumoral, outra vacina bastante importante são as vacinas baseadas em células dendríticas. As células dendríticas são células do sistema imunológico que ativam os linfócitos, os quais destroem o câncer. Nessa forma de terapia, as células dendríticas do paciente são cultivadas com antígenos tumorais em laboratório (tornando-se mais fortes) e depois são injetadas nos pacientes novamente, onde ativam os linfócitos e a destruição do câncer. O primeiro estudo clínico de vacinas baseadas em células dendríticas foi aprovado em 2010.

         Outra forma de tratar o câncer, é a utilização de citocinas. Uma citocina muito importante é a IL-2, também conhecida como ativadora de linfócitos.

         Ela foi descoberta em 1976 e seu uso para o tratamento de pacientes com câncer foi aprovado em 1991. Além das citocinas, anticorpos são outros componentes do sistema imunológico também muito importantes no tratamento do câncer. Eles foram produzidos em laboratório pela primeira vez em 1975 e o uso de anticorpos para tratamento de câncer foi aprovado pela primeira vez em 1997. Atualmente, diferentes tipos de anticorpos vêm sendo utilizado com sucesso no tratamento de câncer. Um tipo especial de anticorpos são os anticorpos que bloqueiam as moléculas que impedem o sistema imunológico de destruir as células tumorais (chamados inibidores de checkpoint).

         A injeção de células T geneticamente modificadas em pacientes com câncer é outra estratégia para o tratamento do câncer. Existem diversas formas de se modificar as células T, mas o comum é induzir a expressão do receptor chamado CAR (receptor quimérico de antígeno) na superfície dessas células. Essas células T expressando o CAR (células T-CAR) são muito potentes e destroem as células tumorais. O desenvolvimento de células T-CAR se iniciou em 1989, contudo essa primeira geração de células T-CAR não foi tão eficiente no tratamento dos pacientes. Assim, em 1998 iniciou-se os estudos com células T-CAR de segunda geração (mais potentes que as de primeira geração). As células T-CAR de segunda geração foram testadas em um estudo clínico em 2011 e foram vistos resultados promissores no tratamento de pacientes com câncer. Em 2017, as primeiras células T-CAR foram aprovadas para o tratamento de pacientes com linfoma.

         A imunoterapia tem mostrado resultados importantes para o tratamento de diversos tipos de cânceres por meio da ativação e estimulação do sistema imunológico contra as células cancerosas. Em razão disso diversos pacientes têm aumentado sua qualidade e tempo de vida. Muitos desafios ainda precisam ser superados e melhorias tem sido feitas diariamente em centros de pesquisa e universidades para que essas terapias sejam cada vez mais eficazes e acessíveis para mais pacientes. Além disso, os estudos dos mecanismos do câncer no organismo humano devem ser intensos para aumentar a efetividade das imunoterapias direcionadas a este tipo de doenças.

Referência Bibliográfica
DOBOSZ, P.; DZIECIĄTKOWSKI, T. The Intriguing History of Cancer Immunotherapy. Front Immunol, 10, p. 2965, 2019.

Imagens
Daianne Maciely Carvalho Fantacini