O que, o que é? Pesa 1,5 Kg e é capaz de fazer cálculos, possibilitar a fala, imaginar cenários e interpretar obras de arte?
Se você usou seu cérebro para responder a essa pergunta, já sabe a resposta.
Nosso cérebro é um órgão caro: ele utiliza cerca de 25% da energia consumida pelo nosso corpo. Além do mais, é grande na infância, o que dificulta o trabalho de parto na nossa espécie (você já viu o tamanho que é a cabeça de um bebê em proporção ao seu corpo?). Mas o que possibilitou que o nosso cérebro fosse mantido durante a evolução, mesmo consumindo tanta energia?
Segundo a pesquisadora brasileira Dr. Suzana Herculano-Houzel e outros colegas, a resposta é simples: o cozimento da comida. Eu explico. Vamos pensar em nossos primos evolutivos, os gorilas. Eles têm um cérebro de aproximadamente 30 bilhões de neurônios. Bastante, não é? Mas sabe quantos neurônios você tem dentro do seu crânio? 86 bilhões! Quase 3 vezes mais. E ter muitos neurônios significa gastar muita energia para mantê-los. Por isso, um gorila gasta aproximadamente 8 horas do seu dia comendo.
Então porque nós não passamos o dia todo comendo? Aí que está o pulo do hominídeo. Há cerca de 1 milhão de anos atrás, nossos ancestrais o cozimento dos alimentos. Com isso, foi possível usar o fogo para amaciar, amolecer e tornar a mastigação da comida (principalmente da carne) mais fácil de ser feita, além de facilitar a digestão e a absorção dos alimentos pelo intestino. Dessa forma, além de ficar mais fácil para se alimentar e garantir a energia que precisavam, os nossos ancestrais tiveram mais tempo livre no seu dia. Mais tempo para desenvolver a comunicação, a agricultura, a arte e a convivência em grandes grupos. Todas essas relações complexas possibilitaram o gradual crescimento do cérebro mediante ao processo de seleção natural durante a evolução.
Porém, ainda é preciso compreender melhor essa questão da massa cerebral e sua relação com a capacidade cognitiva dos animais. Enquanto nosso cérebro pesa cerca de 1,5 Kg, o cérebro de um elefante chega a 5 kg. Embora, proporcionalmente nosso cérebro seja maior em relação ao nosso corpo do que o de um elefante, sua massa total ou relativa não explica o porquê somos capazes de enviar uma sonda à Marte e os elefantes (ainda) não. Basta observar que tanto o cérebro de uma vaca quanto o de um chimpanzé pesam 400 gramas. E o chimpanzé é capaz de realizar comportamentos muito mais complexos do que uma vaca. Então, a dúvida que fica é: o que garante a complexidade do cérebro humano?
A resposta pode parecer simples: a quantidade de neurônios. Porém, um elefante tem três vezes mais neurônios que os humanos. Por isso, a resposta não é quantos neurônios, e sim onde eles estão. Boa parte dos neurônios de um elefante está no cerebelo, uma área associada ao equilíbrio e ao movimento. Enquanto em nós, humanos, a maior parte dos neurônios está no córtex cerebral, área responsável pelo planejamento e execução de ações complexas, como o raciocínio lógico. Mas por que os humanos têm mais neurônios nessas áreas do que os outros animais?
Bem, os cientistas acreditavam que a resposta para essa pergunta estava na quantidade de dobras do cérebro dos humanos. No entanto, novas pesquisas conduzidas pela Dr. Suzana Herculano-Houzel e pelo Dr. Bruno Coelho Cesar Mota mostram que os próprios elefantes têm mais dobras no cérebro, o que significaria mais neurônios ali também. Isso quer dizer que a quantidade de dobras no córtex não tem nada a ver com o número de neurônios dos animais. O que realmente nos diferencia dos outros animais é a relação entre a área do córtex cerebral e a espessura do tecido. O que acontece é que com o córtex mais espesso (grosso), há uma superfície mais lisa que leva a neurônios mais distantes uns dos outros, comprometendo a troca de informações entre eles, como no caso do elefante. Ou seja, como os humanos possuem uma densidade maior de neurônios nessa região, é possível que nós tenhamos uma melhor comunicação neural.
Portanto, o cérebro humano é sem dúvidas uma máquina complexa. O que não quer dizer que os outros animais não tenham cérebros muito interessantes e capazes de realizar coisas que nós jamais conseguiríamos. Não temos o maior cérebro, nem aquele com mais dobras, e nem mesmo o com maior número de neurônios. Nossa capacidade cognitiva superior (até onde sabemos) parece se dar pela maior quantidade de neurônios específicos da área cortical. Somos todos animais, apenas diferentes, e, por isso, é importante que nós compreendamos como essa diversidade surgiu à luz da evolução. Agora, quando bater aquela fome e você decidir cozinhar, pense que seu ancestral de 1 milhão de anos atrás teve a mesma ideia. E deu muito certo.
Texto: Vítor Campos
Revisão: Caio M.C.A. de Oliveira
Para saber mais:
O que o cérebro humano tem de tão especial?
Quantidade de neurônios explica a superioridade da inteligência humana
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