O Adote em Pauta desta semana começa inspirado por Caetano Veloso. Grande cantor e compositor revela nessa canção, de maneira poética, a presença inquestionável do tempo em nossas vidas. Podemos até dizer que o tempo nos coloca uma rotina e a arte nos mostra isso de maneira sublime:

Tempo…

“És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo”

       Nos ecossistemas e nos ciclos de vida dos seres vivos o tempo também se faz presente. Querem um exemplo? Todos nós sabemos que frio e calor se alternam, que as secas são substituídas pelas chuvas e que depois de dias claros vem a noite. A natureza parere cíclica e a Ciência já sabe como investigar isso, segundo Prof. Doutor Guilherme de Araújo Lucas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, palestrante do Adote um Cientista do dia 24 de maio de 2018, que começou perguntando: O tempo é importante para nós?

       Como exemplo, o pesquisador mostrou que a temperatura de nosso corpo não é fixa, varia de forma cíclica durante 24 horas por dia. Surpreendeu o fato de que a temperatura oscila de 35,5 a 37,0°C, sendo mais baixa pela manhã.

     O controle da temperatura ocorre no hipotálamo. Já ouviu esse nome? Ele é responsável pela homeostase corporal (tendência ao equilíbrio e conservação). Opa!!! Vamos explicar melhor isso. Segundo o pesquisador, há no hipotálamo o núcleo supraquiasmático (SCN) que funciona como um relógio biológico, recebendo informações do meio ambiente. Sabem como? Pelos receptores da retina.

       Na ausência de luminosidade, o núcleo envia sinais para a glândula pineal, que passa a liberar melatonina para o cérebro. Esses estímulos são bloqueados quando o nervo óptico é estimulado por luz e, então, não ocorre a produção do hormônio.

 

 

Fonte: https://elcienemariatigre.tumblr.com/

       Como nós podemos saber de tudo isso?

       Com cientistas provocando lesão no núcleo supraquiasmático em ratos e observando os resultados. E a consequência? Perda do ciclo vigília-sono dos ratos com essa região experimentalmente lesada, ou seja, perda da alternância entre os períodos que passavam acordados e os períodos em que dormiam. Já em pesquisas com humanos, um indivíduo ficou voluntariamente 100 dias dentro de uma caverna e impedido de ver a luz do sol, consequentemente, o núcleo supraquiasmático não foi estimulado pela retina. Assim, esse indíviduo alterou totalmente os horários em que dormia ou ficava acordado.

       Sabem quem é um dos maiores inimigos desse ciclo? A luz elétrica das cidades que inibe a produção da melotonina. Por que os galos nas cidades parecem doidos e cantam durante a noite ao invés de cantar nas primeiras horas da manhã? Devido aos postes de luz que deixam as aves acordadas durante a noite. E quando você usa muito o celular a noite e demora mais para ter sono ou dormir? Mesmo efeito devido à luz do visor. Dormindo nosso corpo também segue padrões, salientou o professor Guilherme.

       Sabem quando fechamos os olhos e dormimos? Os neurônios funcionam de forma rítmica, despolarizando no córtex cerebral. Além disso, no sono existem diferentes fases. Por exemplo, a frequência de despolarização dos neurônios aumenta no sono profundo.

       Já ouviu falar do sono REM? É nessa fase que os olhos tremem e o córtex está ativado de forma similar quando se está acordado. Quando dormimos o cérebro só funciona diferente, completou o pesquisador.

Autor: Ricardo Marques Couto

Revisores: Caio M.C.A. de Oliveira.

 

       Quer saber mais sobre as fases do sono?, assista a palestra do canal Youtube da Casa da Ciência (disponível abaixo) e não deixe de ouvir a música do Caetano Veloso:

“Por seres tão inventivo

E pareceres contínuo

Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

És um dos deuses mais lindos

Tempo, Tempo, Tempo, Tempo”

Fonte da capa: http://www.newsrondonia.com.br