Ao pesquisar na internet a palavra Captopril logo surgem bulas de remédios que relacionam esse fármaco ao tratamento da hipertensão, por reduzir a pressão arterial. O que todos não sabem é que o Captopril foi extraído, na década de 60, do veneno da jararaca (Bothrops jararaca) aqui mesmo em Ribeirão Preto, pelo Prof. Dr. Sérgio Henrique Ferreira e colaboradores.
Certamente muitas pessoas se perguntam:
Quais são as substâncias que existem nos venenos?
Por que a presa torna-se vulnerável ao ser picado por uma cobra, aranha, escorpião ou vespa?
Essas e outras perguntas elaboradas pelo Prof. Dr. Wagner Ferreira dos Santos nortearam sua palestra no Adote, dia 12 de abril no anfiteatro vermelho do Hemocentro de Ribeirão Preto.
Além do Captopril há outras substâncias no veneno da jararaca, entre elas, a acetilcolina que é um neurotransmissor produzido pelo Sistema Nervoso (Central e Periférico), responsável pela contração muscular e comunicação entre as células cerebrais. Vocês lembram o que é a sinapse?
Na sinapse, a acetilcolina quando liberada, se liga ao receptor do neurônio pós-sináptico (que pode ser o músculo), provocando a entrada de sódio (despolarização da membrana) e propagação do estímulo. A relação que a acetilcolina tem com o controle motor dos vertebrados, o glutamato tem com os insetos. Isso mesmo, para os insetos se movimentarem é fundamental a presença do neurotransmissor glutamato na placa motora. É exatamente aí que o veneno da aranha atua, segundo o pesquisador.
Pesquisas mostram que elas inoculam em suas presas, bloqueadores dos canais de cálcio e, consequentemente, inibe a liberação do glutamato. Sabem por quê? Porque é necessário cálcio para a exocitose (fusão das vesículas com neurotransmissor na membrana). Agora ficou fácil! Se não existe liberação desse neurotransmissor, o inseto não conseguirá se movimentar e será uma presa fácil.
Mas você pode se perguntar por que o cientista estuda isso? Pela curiosidade ou pelo desejo de conhecer melhor a natureza, mas tem outra questão importante também, o excesso de glutamato no sistema nervoso de ratos de laboratório causa epilepsia e identificar substâncias que controlam essa liberação poderá ajudar milhares de pessoas.
Outro estudo importante realizado pelo grupo do Professor Wagner ocorreu com a aranha do Cerrado chamada Parawixia bistriata. Eles isolaram uma molécula específica chamada Parawixina 2. Para a realização da pesquisa foram usados animais com crise convulsiva, considerados modelos in vivo (palavra latina que significa dentro do organismo). Quando o animal estava em crise convulsiva era injetado, através de uma cânula, a Parawixina 2, mostrando seu efeito antiepiléptico.
Nesse caso não tem nada a ver com o glutamato. A molécula descoberta pode estar relacionada com outro neurotransmissor, conhecido como GABA (ácido gama-aminobutírico), o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, presente em parte considerável das sinapses do Sistema Nervoso Central (SNC). Essa função inibitória pode ter várias implicações terapêuticas. Segundo o pesquisador, a Parawixina 2 provavelmente aumenta a concentração de GABA ou evita sua destruição.
Até agora falamos de venenos, cobras e aranhas. Olhem o título da palestra! Viram? Tá faltando falar dos primatas bugios. Será que eles produzem venenos? Eles não são venenosos, no entanto, transpiram colorido. Por quê? Não são as respostas que mudam o mundo, mas sim as perguntas (de Sócrates a Albert Einsten) e, talvez seja isso que deixa a Ciência interessante e torne a busca pelo Conhecimento acessível a todos.
Texto: Ricardo Marques Couto
Revisão: Marisa Ramos Barbieri
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