A primeira palestra do segundo semestre de 2018, do Programa “Adote em Cientista”, apresentada pelo pesquisador Danilo Ament, pós-doutorando em Entomologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, surpreendeu logo de cara com a pergunta: “Se formigas, abelhas e cupins fossem removidos da face da Terra, a vida entraria em colapso?”.
O primeiro passo para reconhecer a importância ecológica dos insetos é descobrir a diversidade (número de espécies) de insetos que existem nos diferentes ambientes. Como fazer isso? Reconhecer que cada nome popular que atribuímos aos insetos revela uma diversidade de espécies reconhecidas por especialistas, destacou o pesquisador. Para se ter uma ideia, na árvore da espécie Tecoma stans, conhecida como “chapéu de Napoleão”, foram identificadas 48 espécies de abelhas que visitam suas flores para polinização ou pilhagem (roubo) de néctar.
Com os besouros (Coleoptera) é a mesma coisa, eles também desempenham papel importante na natureza. Sabem o que esses insetos fazem? São detritívoros e mineralizadores do solo. O que isso significa? Muitas espécies vivem e se alimentam da serrapilheira das florestas, que é a cobertura vegetal, formada de folhas, frutos e galhos caídos, ou seja, besouros são recicladores da matéria e garantem um solo fértil.
- “Que inseto tem mais indivíduos?”, perguntou o estudante.
- “Os cupins (Isoptera) é considerado o grupo com a maior biomassa do planeta”, respondeu o pesquisador.
Já, em relação às formigas, “quantas espécies existem em uma área de floresta?”, provocou o pesquisador. “Será que são 10, 100, 1000 ou mais espécies?” Assistam essa palestra disponível abaixo pelo Youtube da Casa da Ciência e você se surpreenderá!
As indagações do pesquisador não pararam por aí: “Por que tantas espécies de insetos? O que eles têm de tanto especial?” Segundo Danilo, porque os insetos apresentam soluções para dois desafios da vida: Sobrevivência e reprodução.
Vejam os insetos Holometábolos (moscas, formigas, abelhas, besouros, vespas e borboletas) conhecidos por realizarem metamorfose completa em seu ciclo de vida. São considerados como um exemplo de sucesso evolutivo. Sabem porquê? Porque existe o cuidado parental que seleciona qualitativamente o alimento para os imaturos (larvas) e o local seguro para a deposição e desenvolvimento dos ovos. Isso é muito vantajoso, não acham? Comida de qualidade e proteção!
As estratégias não param por aí. Imaginem as vantagens de saltar e voar. Alguns insetos são saltadores, utilizando o terceiro par de pernas, como é o caso do gafanhoto (ordem Orthoptera), e das pulgas (ordem Sifonoptera), essas últimas podem saltar 200 vezes o comprimento de seus corpos, o equivalente a um ser humano pular prédios de 20 metros de altura em um único salto.
E o vôo?
Voar permite deslocamento rápido e eficiente a longas distâncias, facilitando o encontro entre os indivíduos reprodutores e a localização das fontes de alimento. Porém, uma pergunta ainda permanece sem resposta: como surgiram as asas dos insetos?
A questão é polêmica, mas vamos conhecer dois modelos: terrestre e o aquático. A primeira hipótese é aquela dos lobos paranotais, que são expansões de estruturas rígidas de exoesqueleto presentes nas laterais do tórax de insetos que passaram a ser usadas como paraquedas para amortecer a queda de um indivíduo que poderia estar fugindo de um predador. A seleção natural foi agindo e favorecendo a articulação do lobo ao tórax produzindo movimentos para dirigir o indivíduo em queda. Depois, uma musculatura própria teria se desenvolvido propiciando movimentos para sair do solo.
Já pelo modelo aquático, os insetos usavam pequenas “proto-asas” que tinham a função de proteção, como nadadeiras na superfície da água, adquirindo articulação e musculatura própria. Como os insetos retornavam com frequência ao ambiente terrestre a seleção natural favoreceu essas estruturas que desenvolveram musculatura mais potente e passaram a ser capazes de movimentar os insetos também pelo ar.
Quer conhecer mais sobre as asas dos insetos? Acompanhe a próxima publicação do “Adote em Pauta”, que além das asas, discutirá o ciclo de vida, aparelho bucal e especializações de apêndices.
Autor: Ricardo Marques Couto
Revisão: Caio M.C.A. de Oliveira
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