A história do teatro na Casa da Ciência começou na Escola Estadual “Dom Romeu Alberti”, de Ribeirão Preto. Os alunos, em grupo, trabalharam roteiros de teatro, apoiados e incentivados pela professora Leonízia Nakamura. Uma das peças, “Agonia de uma célula”, escrita por Pamela Cristina da Silva, foi apresentada na reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em Brasília, em 2007. No ano seguinte, Daianne Maciely, já graduanda em farmácia na Unaerp e estagiária da Casa da Ciência, escreveu “Relíquias do sangue e Sara”.

Neste período, o grupo de alunos participou de um encontro com o diretor de teatro Gilson Brigagão, do Ribeirão em Cena, no antigo espaço na rua Lafaiete. No final de uma manhã de sábado, os 15 jovens chegaram ao teatro, adentraram, subiram no palco, tiraram os sapatos e sentaram no chão em círculo. Gilson iniciou a conversa perguntando o motivo de estarem ali. Responderam que havia a expectativa de explicar assuntos científicos às pessoas, para que pudessem entender mais sobre o sangue.

Os alunos mostraram o roteiro “Relíquias do sangue”, escrito por Daianne. Representaram a peça ao diretor, ouvindo suas sugestões. De acordo com Gilson, foi a primeira vez que encontrou um grupo que havia não somente lido, como também escrito o roteiro, sem aspirações a serem atores e atrizes famosos. Um grupo que queria trabalhar teatro para divulgar ciência. Depois desse, outros encontros ocorreram para ensaios e finalização de detalhes da peça como marcações no palco, postura e atuação. A peça foi encenada novamente no SBPC, em 2008, desta vez em Campinas, na Feira do Livro em Ribeirão Preto e no teatro Santa Elisa.

Inicialmente, a equipe da Casa não estava certa de como o teatro poderia ajudar os alunos, já que tinham mesmo é que estudar conteúdos que trabalhavam aqui junto aos pesquisadores. Engano. Todos que fizeram teatro passaram na universidade, maioria nas públicas. O teatro feito pelos jovens pode ser uma estratégia primeiramente para o aprendizado do conteúdo, e, como consequência, a divulgação da ciência.

“A gente tem sempre esta ideia de que é uma luta, porque a palavra defesa, leva ao sentido de lutar, se defendendo de algo. Já havíamos utilizado a luta na primeira peça. Com o surgimento da “Relíquias do sangue” pensei mostrar a invasão. Usar a dança como uma batalha surgiu em uma conversa com a Dani, já que faz dança de rua. Ela pensou em todos os movimentos, na sonoplastia de cada música, foi tudo ela que fez” (Daianne, entrevista realizada em 2009)

Ensaios

Os alunos ensaiavam a dança em qualquer local possível no Hemocentro. Muitas vezes viam-se os alunos na área externa, quando os anfiteatros e salas estavam ocupados. Sempre em cantos que não atrapalhavam os que passavam. Era um grupo se movimentando, “dançando sem música”, para pensar os movimentos e melhorá-los. Os alunos interpretaram a “luta” incrivelmente. Uns jogavam capoeira, outros praticavam “le parcour”, e o resultado foi uma cena deliciosa de assistir. Tamanha vivacidade que se jogavam ao chão durante a coreografia, fez com que saíssem com os corpos ralados. Tudo pensado e ensaiado. Enfim, ensaiaram muito, estudaram, tiveram aulas com Daianne sobre célula e imunologia. Os atores tinham que entender o conteúdo já que, depois da peça, eles davam explicações sobre seus personagens.

Daniele Viola era a responsável pela dança das organelas, linfócitos e os vírus – um dos pontos altos da peça – e pela escolha dos sons e músicas para sonoplastia da peça. Dani, depois desta peça, continuou seus estudos no projeto “Ribeirão em cena”, apoiada por Gilson. Depois de graduada em Educação Física pela USP, está cursando artes cênicas na Universidade Federal de Santa Catarina.

Texto: Flavia Fulukava Prado

Edição: Gabriela Zauith