A 12ª edição do Férias com Ciência, promovida pela Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto, foi realizada nas tardes dos dias 18, 19 e 20 de julho no MuLEC (Museu e Laboratório de Ensino de Ciências), localizado no campus da USP Ribeirão Preto. O tema “Cada macaco no seu galho” trouxe o conceito de evolução, com atividades orientadas por Bárbara Benati, Ricardo Couto e Caio M.C.A. de Oliveira.

As atividades envolveram 40 alunos de escolas públicas e particulares de Ribeirão Preto e região. “O objetivo é atender jovens que não podem vir durante o ano no Adote um Cientista. É um programa mais leve, temático e com assessoria de especialistas. São programadas atividades de observação que faltam às escolas, e lúdicas como jogos, com temas voltados para biologia”, afirma Marisa Ramos Barbieri, coordenadora da Casa da Ciência.

A atual edição aborda a evolução, muitas vezes tratada de maneira imediatista nas escolas. “É o referencial básico na biologia. Não se estudam os seres vivos sem pensar na sua origem e no ambiente em que vivem. Juntamente com a ecologia, porque as coisas não nasceram de repente e não estão aqui por acaso. É fundamental para entender a ação do homem sobre a natureza”, completa Marisa.

Na maioria das vezes, evolução é um conteúdo profundo apresentado de maneira superficial nas escolas. Momento em que surgem lacunas que causam polêmicas, como as que envolvem criacionismo (teoria que explica a teoria do universo com base na ação de uma entidade divina). É comum ouvir, ‘ou você acredita em Darwin ou acredita em Deus’. Conhecer a ciência não é conflitante com nenhum tipo de crença religiosa. Como também a visão errônea que nós evoluímos dos chimpanzés. Essas questões afastam os alunos do saber científico”, afirma Bárbara Benati, graduanda em biologia.

O ponto alto são as práticas, os passeios pelo campus e a possibilidade de manipular material biológico, parte do acervo do MuLEC. “Eles gostam muito, é o que falta nas aulas. As escolas não conseguem ter um acervo científico, como coleções que possam ser utilizadas para investigar uma causa”, diz Caio M.C.A. de Oliveira, biólogo e mestre em biologia comparada.

O Museu, instalado em 2003, atualmente está passando por uma reorganização do acervo. Abriga coleções biológicas como a de animais invertebrados marinhos, animais vertebrados, coleções entomológica, geológica,  paleontológica, reagentes e vidrarias para experimentos, e coleção de instrumentos de medições matemáticas (Clique aqui).

Práticas no campus

As atividades do primeiro dia abordaram o tema da classificação biológica e filogenia. “São temas complexos pois são abstratos. Para facilitar tentamos mostrar que a classificação está no nosso dia a dia”, explica Bárbara. Os alunos, em grupos, classificaram objetos distintos de acordo com critérios próprios.

No segundo dia foram apresentados aspectos da seleção natural, teoria primeiramente proposta por Darwin e Wallace para explicar a evolução biológica. Para compreender a seleção natural os alunos fizeram a dinâmica dos bicos dos tentilhões e sua interação com o ambiente, orientada por Caio. Consiste em espalhar sementes diversas e utilizar diferentes objetos para tentar pegá-las, como prendedores de roupa e pinças. “Tentamos ensinar o principal mecanismo evolutivo, a seleção natural, alvo de confusão por questões conceituais e sociais. O que a teoria evolutiva traz que temos parentesco com todos os seres vivos do planeta. Todos nós (seres vivos) temos um único ancestral comum, no nosso caso a espécie vivente que compartilhamos mais recente é o chimpanzé, que muitas vezes é confundida com uma descendência direta. Nunca o ser humano poderá descender do chimpanzé”, afirma Caio. A discussão também buscou desconstruir a imagem do homem como “animal mais evoluído”, como sinônimo de “ser melhor”. Um organismo é adaptado ao seu ambiente, mas se for colocado em outro completamente diferente pode não sobreviver da mesma forma.

Em seguida, o tema de polinização foi conduzido por Ricardo Couto, biólogo e doutor em entomologia. “Mas não do jeito que é vinculado na mídia e nos livros, que jogam a responsabilidade só para as abelhas, fato que carrega um certo apelo econômico. Na natureza, as abelhas são tão importantes quanto as plantas, mas utilizam-se de termos equivocados. ‘A abelha vai visitar as plantas e tem uma recompensa’. O correto é que a abelha vai procurar o que interessa para sua sobrevivência, e a flor tem suas estratégias importantes para sobrevivência da planta. Isso é histórico, existe há milhões de anos. É preciso entender o processo para entender o presente, as adaptações que foram criadas em milhares de anos”, explica Ricardo. A atividade envolveu coleta de flores e observação na natureza num passeio pelos arredores do museu. Ao retornar foram discutidas as relações das formas e interações de flores e polinizadores.

“É um primeiro passo de melhorar a alfabetização científica. Tentar suprir dificuldades da formação do aluno e do professor principalmente. O propósito foi aproximar o aluno de uma visão de mundo mais científica, mais bonita”, conclui Ricardo. Os alunos poderão acompanhar textos e fotos pelo site da Casa da Ciência.

O que você aprendeu?

“Já me ajudou quando perguntaram na escola um tema que eu já tinha aprendido aqui. É uma coisa bem interessante de se fazer nas férias. Gostei da classificação para entender a ordem nos animais”. Joshua, da Fundação Educandário, terceira vez que participa do Férias com Ciência.

“Na escola não saímos para pegar as coisas e não olhamos direito para o ambiente. Gostei muito do último dia, de separar as partes das flores”.

“Confundia evolução com complexidade do ser. E aprendi que são palavras diferentes. Evolução são as mudanças que ocorrem no decorrer do tempo. Somos seres mais complexos que os outros, mas não seres mais evoluídos”.

“Eu achava que o ser humano tinha vindo do chimpanzé. Aqui aprendi que a gente tem um parentesco em comum. Mas o chimpanzé não virou um ser humano e um ser humano não vai virar um chimpanzé”.

Carolina, do Colégio Lacordarie, de Ribeirão Preto e Letícia, do Colégio Anjo da Guarda, de Bebedouro. É a primeira vez que participam do Férias com Ciência.

“Aqui a gente aprende coisas inovadoras. Gostei das experiências com os animais in vitro e das experiências com as plantas. Aprendi que tem uma parte masculina e feminina das plantas. Achei que elas se reproduzissem pelo pólen mesmo”. Sofia, Colégio Ideal.


“Aprendi os tipos de insetos que polinizam as plantas. Que tem um tipo de abelha para um tipo de flor, assim como vimos os bicos dos pássaros que são especializados para pegar determinadas sementes”.

“Nenhuma espécie é mais evoluída do que a outra. Todos somos evoluídos, cada um no seu ambiente, adequado ao seu modo de vida. Como uma bactéria que vive no topo de um vulcão, enquanto nós não sobreviveríamos nessas condições”.

Gabriela, Graciella e Ana Clara de Luiz Antônio, e Beatriz de Dumond, alunas do Adote um Cientista, programa regular da Casa da Ciência.

 

Texto: Gabriella Zauith

Revisão: Caio M.C.A. de Oliveira

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